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Luta contra o câncer: jornalista conta sobre suas batalhas e como conseguiu tirar o melhor delas

Conheça a história de Patrícia Vellenich, de 45 anos, que descobriu o câncer de mama, curou e foi capaz de enxergar um lado positivo nos piores momentos

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O lado bom do câncer: jornalista Patrícia Vellenich conta sobre suas batalhas e como conseguiu tirar o melhor delas – Arquivo pessoal/Patrícia Vellenich

Quando o diagnóstico do câncer é dado, o mundo cai e a cabeça fica a mil, e o episódio que a jornalista Patrícia Vellenich viveu não foi muito diferente. Porém, ela relata que com a doença, ela conseguiu ver o lado bom do câncer. Como? Conheça a história que contamos abaixo, do início à cura:

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Tricologista e a descoberta

Por estar há 16 anos trabalhando na TV, Patrícia estava pensando sobre como seria quando ficasse mais velha, especialmente a respeito da sua vaidade em frente às câmeras. Com o passar do tempo, desenvolveu uma psoríase capilar. Depois de usar todos os tipos de produto a pedido da dermatologista, decidiu procurar uma tricologista, que, por sua vez, pediu uma bateria de exames.

“No de sangue, ela pediu marcadores tulmorais, e eu nem sabia. Eu estava super tranquila, achando que era um problema na cabeça, no capilar. E quando saiu o resultado, deu alterado para câncer de mama. A tricologista me chamou e disse que era melhor eu fazer um ultrassom. Enquanto estava realizando o exame, o médico disse que havia um nódulo estranho e irregular, afirmando que achava que era, sim, um câncer. Na mamografia, foi confirmado”, relembra.

Com a notícia, Vellenich sofreu o baque. “A minha vida virou de cabeça para baixo da noite para o dia, literalmente. Porque, antes eu estava bem, apresentando o jornal, toda maquiada, com um cabelão bonito, né? E, no outro dia, eu já fui afastada do trabalho, porque a médica disse que era um tumor grave, que é o triplo negativo, e com uma chance enorme de se espalhar rapidamente. Eu tinha que começar o tratamento para ontem”, conta.

Vaidade ficou de lado

No dia seguinte, estava ciente que teria uma luta árdua pela frente e decidiu tomar as rédeas do que podia. “Eu sabia o que a quimioterapia poderia me causar, mas uma coisa que eu não deixaria ela fazer comigo era tirar meu cabelo. Estava decidida a raspar antes de iniciar o tratamento. E aí eu comprei a maquininha e meti a máquina a zero na minha cabeça. Sinto que fui de alma lavada para a primeira sessão. Eu deixei toda a minha vaidade realmente de lado. Não sofri por ter que raspar o cabelo. Não caiu uma lágrima do meu rosto, porque eu sabia que tudo era muito mais importante do que qualquer vaidade minha”, recorda.

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Tendo sido prescritas quatro quimioterapias vermelhas, doze brancas e outras doze de radioterapia, Patrícia afirmou para si que estava disposta a encarar este desafio: “Se você vai até o final do tratamento, a chance de ficar sem células tumorais é muito grande, ainda mais que eu peguei de uma forma pequena. O tumor tinha 1,6 centímetros. Falei para Deus: ‘Eu vou até o final do tratamento, porque quero ter certeza que fiz tudo o que podia para me livrar dessa doença’. E foi o que eu realmente fiz. Mesmo, várias vezes, achando que eu iria morrer, eu ia, porque eu queria estar curada”.

Manual próprio

Patrícia, com o procedimento, foi descobrindo detalhes da doença que não foram aprofundados pelos profissionais. “Até os médicos têm receio de falar a real. Eles dão uma floreada, porque, é óbvio, se o paciente souber tudo o que ele vai passar, ele não vai querer fazer o tratamento. Sendo assim, você vai descobrindo conforme vai vivendo e adotando mecanismos para poder ficar bem em relação a todo esse turbilhão. Para cada efeito colateral, eu tinha uma solução que dava certo para mim”, relata.

Um dos exemplos foi com sua enxaqueca, que já se fazia presente antes do câncer. “Quando eu descobri o tumor, essa enxaqueca mudou de lugar. Ela era do lado direito. De repente, ela foi para a nuca. Outro dia, foi para o lado esquerdo. Com isso, eu pensava que tinha invadido o meu cérebro. Me aprofundei e vi que não, era apenas uma dor de cabeça muito forte. E aí descobri um remédio perfeito”, detalha.

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Coragem e força

Havia momentos em que ela tinha impressão que não daria conta, mas, em vez de se entregar, preferiu construir sua própria fortaleza. “Eu tinha um ditado meu. Em todas as horas que parecia que iria morrer, eu falava: ‘eu caio, mas eu levanto. Eu vou sair dessa'”, afirma.

Contudo, a batalha não é fácil. Você vê um outro significado na vida quando você está perto, digamos que, da morte. Porque você não sabe o que vai acontecer. Primeiro, você tem que ver se vai conseguir chegar até o final do tratamento, que é árduo, solitário. Por mais que você tenha pessoas por perto, só quem está passando é que sabe. Se você tiver força, coragem, você consegue sair daquilo. Parece que não, mas a gente é capaz. Eu descobri muito isso. Eu descobri a força que eu tinha e que nem imaginava”, reflete.

Novo olhar

Com tudo mudando na vida de Patrícia, ela começou a ver alguns detalhes de forma diferente. “É na doença que você vê quem realmente está ao seu lado ou não. Com pessoas que eu achava que eram muito próximas de mim, eu me decepcionei. Aquelas que estavam um pouco mais distantes, que talvez eu nem desse importância, me revelaram ser mais preocupadas comigo do que eu imaginava. E é, nesses momentos, que você vê”, opina.

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O amor próprio também ganhou um novo olhar. “Passei a me amar mais, a me preocupar com o meu bem-estar. Ás vezes, me colocava em situações por conveniência, mas que não me faziam feliz. Parece que depois que a vida dá essa mudada, tudo se ajeita. A vida é assim, é cíclica, quando não é um câncer, é um divórcio, é a perda de um parente ou de um emprego. São várias coisas que fazem parte e a gente não tem o controle sobre elas. Quem tem é Deus. Por mais que eu esteja no controle, vai depender se isso realmente é para mim. Então a gente tem que aceitar mais e parar de ficar reclamando. Em vez de ficar falando ‘ai, eu não tenho isso’, falar ‘que bom que eu tenho isso’, porque, se está ruim, pode ficar pior. Então eu sempre agradeço”, declara.

Ouvindo outras histórias

Enquanto não podia, e nem tinha forças para sair de casa e, muitas vezes, até da cama, a jornalista decidiu começar um novo projeto, o podcast ‘Paty no Pod Pode’“Comecei a pensar o que poderia fazer para auxiliar outras pessoas que estivessem enfrentando este problema. Eu nem sabia como fazia, fui atrás de equipamentos para dar início. Assim, as pessoas poderiam falar o que elas bem entendessem, o que quisessem, e o que realmente é, sem mistificar a doença”, expõe.

O propósito foi além dos outros e acabou ajudando a si. “Eu ensinava, mas também aprendia. Fazia entrevistas, conversava com enfermeiros, médicos, vários profissionais. Percebi que tinha soluções que poderia ter adotado bem antes, descobri remédios que poderiam me ajudar a melhorar os sintomas que tive. Quem já havia passado por aquilo, tinha muita coisa bacana para falar. Me ajudou a passar por tudo aquilo, de uma forma que, às vezes, eu nem lembrava que estava vivenciando a doença, sabe?”, revela.

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Atualmente, o podcast conta com duas temporadas de 12 episódios cada, e está indo para sua terceira temporada. “Estou no sexto episódio. As pessoas me procuram para poder contar a história delas. E, agora, estou focando em outros tipos de câncer”, detalha.

‘O Lado Bom do Câncer’

Logo que descobriu o câncer, decidiu que queria encontrar os ângulos positivos da história que iria viver. Depois de ter se curado, Patrícia está decidida que lançará uma obra em outubro deste ano. “Estou escrevendo o livro ‘O Lado Bom do Câncer’, abordando a minha percepção. Porque eu acho que tudo o que vem não é só para o mal, é para ensinamento também. Minha mãe, inclusive, esses dias, perguntou para mim: ‘mas tem um lado bom do câncer?’. E eu falei: ‘mãe, existe tanta coisa boa nessa doença que, se eu fosse citar, daria uma lista'”, conta.

Por fim, se Patrícia pudesse dar um conselho ao seu eu do passado ou a alguém que está passando por esta doença, ela diria: “Chega uma hora que tem fim. É difícil, mas vai passar. Tenha calma. Não se apegue às datas, ao final do tratamento. Viva um dia de cada vez. Vá fazendo passo por passo. Se não, você acaba deixando de viver, só esperando chegar lá no final. E dá para você ter momentos bons, com sua família, com pessoas que você gosta. Que é difícil, é. Vai ser muito mais que aquilo que você esperava, mas vai ter um fim. Não há mal que dure para sempre. O que é um ano diante de uma vida que você já viveu até agora? Procure ver o lado bom dessas coisas”.