Publicidade

”Escrever é como se aventurar nas palavras”, diz Mateus Moraes, de 9 anos, autor-mirim de livro desenvolvido à distância com seu avô

“Tudo Acaba em 10” é o título da obra criada pelo jovem e Mário Sérgio, seu companheiro de aventuras lúdicas

Mateus Moraes e Mario Sérgio, autores do livro “Tudo Acaba em 10” – Divulgação

Já imaginou viver na fantasia de uma criança? Quem sabe, caminhar em um jardim cheio de doces, ou mesmo ter o poder de nunca se cansar para que a brincadeira não tenha fim? Esta foi a realidade dos avós Mário Sérgio, professor universitário e escritor, e sua esposa, Eliane, durante grande parte da infância do pequeno Mateus, de 9 anos.

Publicidade

Apaixonada por criar histórias, essa família criou a sua própria — e uma muito especial, por sinal.

“Quando o Mateus tinha quatro anos de idade, depois do almoço, ele ficava pulando na nossa frente e nós puxávamos ele para a cama para dar aquela relaxada. E foi aí que começou a chamada historinha de três”, contou Mário em entrevista exclusiva para a Bons Fluidos. “A história de três tinha um mecanismo. Um começava, aí ia para o outro, ia para o terceiro, e voltava”, disse.

PANDEMIA

Após anos brincando de fantasiar e criar, as narrativas presenciais de Mateus, Mário e Eliane precisaram ser interrompidas em decorrência do grande “vilão” conhecido como coronavírus. A pandemia obrigou avós e neto a se separarem física, mas não ludicamente, pois agora as histórias eram escritas à mão e circulavam através de um leva e traz de correspondências, intermediado pelo pai de Mateus, Luiz Guilherme.

Publicidade

“A carência nos alertou que nós deveríamos ficar naquilo que a gente é o mais forte, que é a fantasia, a ludicidade, não tanto da minha parte, mas da parte dele, que criava os personagens”, contou Mário, quando questionado sobre o que impulsionou avô e neto a continuarem a contar histórias mesmo naquele cenário mundial que podemos chamar de ‘estranho’ e difícil.

LIVRO FEITO COM AMOR, CRIATIVIDADE E FANTASIA

A reinvenção na vida das pessoas foi essencial durante a quarentena. Avô e neto inovaram na maneira de registrar seus contos e o resultado de anos de experiência com histórias se concretizou em um livro, ideia dada pela avó e companheira da dupla. “Tudo Acaba em 10” nasce e, ao mesmo tempo, dá vida à turma do Garganta, personagem principal da obra que ganhou este apelido pelas aventuras fantasiosas que contava.

Publicidade

“As histórias eram criadas por mim. Os personagens eu criava e detalhava. E até a gente criar o Garganta, nós fomos criando personagens conforme o tempo. Quando começou a quarentena, nós já tínhamos uma turminha inteira para escrever o livro.”, explicou o jovem Mateus sobre sua participação na construção das narrativas. “Fui eu que fiz o título. Fui eu que pensei em colocar ‘Tudo Acaba em 10’, porque é característico do Garganta. Se é uma conta matemática, sempre vai acabar em dez. O dez fecha tudo.”, continuou.

Quando o avô questiona de onde Mateus tirou a inspiração para criar os outros personagens da história, ele responde e nos surpreende: “Da rua. Todos os personagens que eu criei foram inspirações de pessoas que eu conheci na rua. Tem o Rafa, que é o cafajeste. O Nersão, que gosta de dar porrada em todo mundo. O indiozinho Ogoido. O Marcelinho, que não tem um braço. Tem a Mara, que é negra. A Eli, que não gosta de levar desaforo para casa”.

Mário segue o embalo e completa sobre a turma do Garganta: “Tem a Alice, que faz uma referência a Alice no País das Maravilhas. Ela é a estabanada da turma. O Otávio, que é meio nerd. Os personagens são do imaginário. Nada é feito fora de fantasias.”

Publicidade
Capa do livro ''Tudo Acaba em 10'', de Mateus Monti Moraes, Mário Sérgio Moraes e Eliane de Campos Moraes
Capa do livro ”Tudo Acaba em 10”, de Mateus Monti Moraes, Mário Sérgio Moraes e Eliane de Campos Moraes

E O FUTURO?

Impressionados com sua história e capacidade de criar, não poderíamos deixar de perguntar para Mateus qual profissão ele pretende seguir: “Eu gostaria de jogar bola quando eu crescer, e ainda escrever alguns livros”, respondeu. Mas arriscamos dizer que sua carreira em campo já tomou partido. “A bola vem, e ele não deixa ela cair. Ele bate-pronto”, explica Mário sobre os “lançamentos” que faz ao neto, relacionados a assuntos que precisam ser tratados desde cedo, como o cuidado para com a natureza e a relação com a minorias.

RESPEITO E INCLUSÃO

Publicidade

“Nós moramos a uns dez quilômetros da nascente do rio Tietê. Existe todo um caráter de respeito pelo meio ambiente no livro”, explicou Mário. “E, por outro lado, tem um segundo fator que eu também joguei para ele: o dado da inclusão. Tem um menininho que não tem braço, tem a negra, tem o indiozinho. São coisas que a gente puxa para criar uma sociedade mais harmônica, e não esta do Rafa, que é a turma do fundão”, completou.

Além de autor das histórias, Mateus também fez questão de compartilhar com o ilustrador, Pedro Caraça, as características físicas de cada um dos personagens que vivem suas aventuras na ‘Escola da Paz’. “Os personagens da história do livro podem ser animados”, explica Mário. Para o futuro, ficam algumas ideias: “Um gibi, quem sabe? Nós estamos saboreando essa aventura”, completa o avô.

Ao final da conversa, enxergamos a felicidade de Mário, mesmo por detrás da máscara, que diz: “O saber está perto do sabor. A brincadeira nos leva”.

“O livro é uma coisa difícil de se escrever e a gente precisa usar muito a imaginação. Então, é um desafio, é uma aventura. Escrever é como se aventurar nas palavras”, finaliza Mateus, de 9 anos, visivelmente feliz com o resultado do trabalho com seu avô.

Mário Sérgio Moraes, Mateus Monti Moraes e Eliane de Campos Moraes, autores do livro ''Tudo Acaba em 10''
Mário Sérgio Moraes, Mateus Monti Moraes e Eliane de Campos Moraes, autores do livro ”Tudo Acaba em 10”