Reality Shifting: jovens revelam que estão conseguindo mudar de realidade

Os Reality Shifters, como se chamam, contam que conseguem chegar a algum local totalmente diferente e, muitas vezes, podem assumir até outros corpos; entenda o fenômeno

Reality-Shifting
Através do Reality Shifting, os jovens revelam que conseguem chegar a algum local totalmente diferente e, podem assumir outros corpos – Canva Equipes/Neirfy

Há pessoas que utilizam livros, filmes, séries e atividades físicas para fugir, por alguns instantes, daquele dia caótico que tiveram. Porém, os mais novos, agora, estão afirmando que conseguem levar a fuga da realidade ao pé da letra, sendo capazes de mudar até de universo. O fenômeno é chamado de Reality Shifting, quanto aos viajantes, são os Reality Shifters. Saiba mais:

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O que é o Reality Shifting?

Apesar de o fenômeno ter ficado popular em 2019, voltou a ganhar força recentemente, já que diversos adolescentes e jovens adultos passaram a publicar seus relatos nas redes sociais. Mas o que é o Reality Shifting? Em tradução literal, o termo significa Mudança de Realidade e é definido pela possibilidade de viajar entre lugares, com a ajuda de algumas técnicas.

Os métodos utilizados variam entre o ‘Alice no País das Maravilhas‘, ‘Elevador‘ e ‘Roteiros‘, e eles possuem um fator em comum, o momento de quietude e concentração. A partir do mesmo, conseguem chegar a algum local totalmente diferente e, muitas vezes, podem assumir até outros corpos.

Importância do contexto em que vivemos

E sim, imaginamos que, neste momento, você pode estar intrigada(o) com esta informação e, talvez, até preocupada(o), especialmente se tiver filhos. Então decidimos conversar com a psicoterapeuta Anne Crunfli e a hipnoterapeuta Mara Fernandes, para tirarmos algumas de suas dúvidas. E, inicialmente, a primeira chamou atenção para o contexto em que vivemos.

“Na realidade social e cultural em que vivemos, a tecnologia está extremamente avançada e desenvolvida. Então a possibilidade de criar multiversos e avatares torna-se real com o uso dos óculos virtuais, por exemplo. E eles podem estar presentes nestes universos, basicamente, pelo tempo que desejarem. Por isso, acredito que o Reality Shifting venha muito disso”, exemplifica.

E continua: É uma dissociação leve, permitida através de uma criatividade extrema. Ademais, não podemos esquecer que, com o TikTok e o YouTube, por exemplo, a molecada pode ter acesso à meditações profundas, autohipnose e projeções de visualização. Tudo isso vai alterando, minimamente, o estado de consciência”.

A fuga da realidade através do Reality Shifting

Para Crunfli, há ainda o grau de imaginação e sugestionabilidade. “Tal qual o efeito placebo, alguém pode achar que realmente pode estar mudando de cenário, mas na verdade, estão em seu próprio pensamento, vivendo em algo projetado e idealizado. Além disso, há a questão do coping, que é uma forma de lidar com frustrações, estresse e dificuldades do dia a dia, assim como escapar da falta de habilidades e competências para lidar com as pessoas reais”, analisa.

Casos extremos

Mesmo assim, você pode continuar pensando que o imaginário pode atingir a realidade, e, desta maneira, alguém acabar se machucando ou ferindo os outros, interpretando o personagem vivido. Apesar disso, a profissional tranquiliza e afirma que estas situações são raras.

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“Existem momentos e situações muito particulares em que possa ocorrer uma dissociação forte de identidade. É possível ter a ver com algum sintoma ou questão psicótica, mas isso não é comum. Ao contrário, é bem incomum. Uma dica que posso dar aos pais é: entenda que, hoje, as ferramentas para fugir da realidade pragmática, como nós a entendemos, são muito intensas, vívidas, diversas e têm muito apelo para esse público. Com isso, não demonstre ser inatingível aos seus filhos”, inicia.

É possível ajudar os Reality Shifters?

Por fim, dá mais exemplos para que você possa entender melhor. “Verbalize que, apesar de ser mãe ou pai e adulto, já passou por frustrações, sofreu, ficou triste e que enfrentou dificuldades, mas que foi superando aos poucos. Isso te coloca no mesmo patamar que o jovem e pode te aproximar dele. E, por fim, mostre a ele que pode contar com você, sem a necessidade do escapismo tão extremo, enfatizando a importância do real e pragmático, pois ele é muito importante para a consolidação de uma vida plena, saudável e funcional”, conclui.

Outras alternativas são as terapias, tanto a psicoterapia, como a hipnoterapia. Nesta última, o jovem, talvez, até possa se sentir mais confortável, pois é realizada de maneira mais indireta. “A hipnose é muito interessante, porque vai até um ponto em que o jovem começou a ter problemas, traumas, crenças limitantes, algum sentimento ruim que ficou guardado”, explica.

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Editora e repórter da Bons Fluidos. A jornalista já passou pelo Estadão, Band e AnaMaria Digital