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”Frustrar é um ato de amor”, alerta psicólogo sobre como lidar com filhos que querem sempre mais

O psicólogo Renato Caminha fez um alerta para pais que realizam todos os pedidos dos filhos

Os pais não devem fazer tudo o que os filhos pedem – Unsplash/ Marcos Paulo

O mês é dos Pais, mas não podemos esquecer das mães e das “Pães”, ou melhor, mães solos que fazem o papel de pai e mãe dando um duro na criação dos filhos.  A verdade é que independente do título, ao exercer essa função sempre nos cobramos para dar o melhor que podemos aos nossos pequenos. No entanto, o que acontece é que eles parecem eternos insatisfeitos ou querem nos “testar” para terem sempre mais.

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“A fase de dois a quatro anos é chamada de adolescência da infância, onde se iniciam as birras e as crianças começam a testar os pais através da expressão, de uma emoção que tende a ficar um pouco mais aguda, também chamada de raiva”, pontua o psicólogo Renato Caminha.

A partir daí, o convívio pode se tornar um perfeito caos, onde os pais acabam cedendo cada vez mais. E assim surge a questão: qual é o limite entre ceder e se impor?

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“Não podemos dar tudo aos filhos. Temos que ofertar o que é possível e necessário. Costumo dizer que afeto e amor podemos doar indiscriminadamente, mas bens materiais e a disponibilidade integral para a criança e o adolescente temos que ceder conforme a necessidade, a urgência e a real prioridade”, explica o Mestre em Psicologia Social e da Personalidade.

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Se é difícil para nós, adultos, lidarmos com as frustrações, como ensinar aos nossos filhos a melhor maneira de conviver com esse sentimento?

Essa e as principais questões sobre o assunto, Renato Caminha esclarece a seguir.

Confira:

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Como ensiná-los a lidar com essas frustrações, principalmente, se a criança for muito pequena e não souber conviver com as emoções?

Os pais têm que frustrar e existem algumas técnicas específicas para isso que vão se adequar ao contexto da criança e da dinâmica familiar.

Por exemplo, quando ela está com raiva, pedimos para que os pais se afastem e não interajam, nem por olhar, por voz e nenhum tipo de manifestação ou direcionamento à esse filho.  A partir daí, ele intensifica o choro e, possivelmente, vai procurar se aproximar de você, que, por sua vez, continuará mantendo certa distância.

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Depois que a criança fizer a transição do choro raivoso para o entristecido, é hora acolher e se comunicar novamente.

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Pais separados acabam se culpando e mimando mais os filhos?

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Pais separados precisam fazer aquilo que funcionava a dois, só que dessa vez solitariamente. Por isso que pais separados  acostumados a dividir as funções acabam errando mais e, consequentemente, se culpando mais, reparando de outras maneiras.

Se a criança estiver impossível, birrenta, manhosa, você vai ter que dar conta sozinho, independente do estado do humor que ela estiver. Tenho observado pais que erram mais, principalmente depois da separação, tentam compensar posteriormente os seus erros pela culpa, através de comportamentos reparadores.

Quem se culpa mais por não fazer todas as vontades do filho, o pai ou a mãe?

Pai e mãe são condições biológicas, mas em termos de papel e funcionalidade, cada vez mais eles oscilam dentro da família. Vai depender da personalidade de cada um, do estilo de parental, o que cada um traz da sua história de vida, se essa pessoa é mais depressiva, mais ansiosa, com maior tendência à culpa.

Frustrar é um ato de amor?

Claro. O amor excessivo, aquele que quer suprir tudo, acaba sufocando a criança. O cuidado excessivo invalida a criança e acaba afetando sua autoestima, sua capacidade de autonomia e auto eficácia.

Parece que as crianças estão virando adolescentes mais cedo. Como lidar com as frustrações nessa fase?

Acho que a frustração é a manutenção de limites sem culpa.  Às vezes, os pais até conseguem botar limites,  “você não vai fazer isso agora”.

No entanto, após o conflito, o pai vem e diz assim: você entendeu porque o papai fez isso?

É quase como se o pai tivesse desabafando a culpa ou a incerteza que ele tem, relacionado a ter colocado limite anteriormente. Isso é muito complicado, destrói a autoridade parental e empodera essas crianças e adolescentes para que tentem, cada vez mais, extrapolar limites e reduzir a sua capacidade de tolerância à frustração.

Existe algum momento da vida em que o pai para de se culpar? Existe algum momento que o filho entende que tudo isso valeu a pena?

Acho que pais só param de se culpar quando saem desse plano. Espero que, talvez, quando os filhos se tornarem pais, se vierem a se tornar, entendam aquilo que foi feito.


Sobre Renato Caminha – Psicólogo. Mestre em Psicologia Social e da Personalidade pela PUC-RS. Terapeuta Cognitivo. Doutorando na Universidade do Algarve. Professor Pesquisador na área de Psicoterapias Cognitivas na Infância, Transtorno do Estresse Pós-Traumático, Prevenção em Saúde Mental e Educação Socioemocional. Professor convidado do Mestrado da Universidade Autônoma de Barcelona. Autor e coautor de diversas obras na área das Terapias Cognitivas. Sócio e diretor de Ensino do InTCC – Brasil. Membro fundador e presidente da Federação Brasileira de Terapias Cognitivas (FBIC), biênio 2005-2007. Diretor do Instituto TRI de Educação Socioemocional. Presidente do Concriart – Congresso Brasileiro de Terapias Cognitivas da Infância e Adolescência.