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Psicóloga dá dicas de como manter a saúde mental em dia durante a quarentena – PxHere

O coronavírus pegou o mundo de surpresa! Não só no Brasil como em diversos outros países, a recomendação é que fiquemos em casa o tempo inteiro, saindo apenas em situações de extrema necessidade. Sendo assim, seria esse isolamento um gatilho para que as pessoas desenvolvam problemas psicológicas como ansiedade ou até mesmo a depressão?

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Nós entramos em contato com Marina Prado Franco, psicóloga formada pela Universidade Federal de Sergipe, especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo, que respondeu algumas perguntas referentes ao assunto.

É possível desenvolver algum problema psicológico durante o isolamento?

“O isolamento por si só, por ser um cenário de mudanças, mudanças de rotina, mudanças de paradigma, um cenário de incertezas, ele pode ser sim um gatilho ou um fator que propicia o surgimento de alguns problemas psicológicos. Porém, sabemos que frente a essas transformações e mudanças, nós também precisamos estar atentos aos outros, estar atentos principalmente às pessoas que já sabemos que tem uma maior vulnerabilidade emocional.Para essas pessoas que estão ouvindo e lendo noticiários que a todo momento falam sobre problemas que o isolamento pode vir a nos causar, que elas fiquem atentas para evitar isso. Prevenção. Ou seja, manter contato com conhecidos, estar buscando hobbies dentro de casa, utilizando sua criatividade para que sua vida se mantenha preenchida.E que essa pessoa consiga ter um ‘reforçamento positivo’, ou seja, resultados, atividades que provoquem um prazer, que te causem um bem-estar. Isso deve ser mantido e essa é uma forma de prevenir doenças psicológicas”.

Como evitar esses quadros nesse momento?

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“Para que sejam evitados esses quadros de problemas psicológicos no momento, nós devemos minimamente tentar manter a nossa rotina. Pessoas que trabalham e que tem a possibilidade de ficar em casa, elas devem tentar fazer home office. Se isso ainda não foi sugerido pela empresa que você trabalha, você deve conversar com os superiores, informá-los, mostrar casos em que isso já está sendo feito. E questionar: como mais nós poderíamos evitar então que esses problemas psicológicos surjam. Conversando, mantendo contato com amigos e conhecidos. E principalmente, não deixando idosos sozinhos, porque eles estão em área de risco. Imagine, eles podem estar com um medo muito maior, uma ansiedade muito maior. Eles podem entender essa ausência de contato como um abandono, como um desleixo. A gente precisa estar a todo o momento explicando, informando o porquê disto estar sendo feito. Procure hobbies, assista filmes, leia livros, assista aulas na internet. Se mantenha ocupado com atividades que lhe dão prazer”.

Quem já tem um quadro de depressão, ansiedade ou um psicológico mais abalado deve ter cuidado redobrado?

“Sim. Quem já tem o que nós chamamos de pré-disponente, ou seja, quadros anteriores de depressão, ansiedade, precisam sim tomar um cuidado redobrado. Nesses casos, muitas vezes essas pessoas precisam falar para o outro. Fale o que você está sentindo, coloque para fora seus pensamentos de angústia, associados a tristeza, ao medo. Tenha ao lado pessoas em que você confia para dividir tudo isso. Não deixe isso guardado para si. Isso é, por exemplo, uma coisa que deve ser extremamente evitada: não guarde esses sentimentos só para você. Se os seus conhecidos te passam notícias, vídeos e informações a todo o momento, e você percebe que essas informações estão te deixando mais angustiado, evite! Filtre aquilo que você vai ouvir, aquilo que você vai ler. Se com tudo isso você ainda se sentir muito frustrado, angustiado, ansioso, busque ajuda psicológica. Hoje em dia já existem várias formas de buscar essa ajuda pela internet”.

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A família e os amigos podem ajudar mesmo a distância?

“Sim. Nós devemos nos manter conectado com amigos e família igualmente, porque eles podem nos ajudar muito, nos ajudar principalmente a pensar que não estamos sós, a pensar que outras pessoas também passam por isso, não tem com quem dividir isso, não tem com quem falar sobre outros assuntos. Quando ligamos a televisão, só falam sobre o isolamento. Você entra nos grupos e Whatsapp e muitas vezes só se fala nisso. Então, você ligar para alguém, perguntar como essa pessoa está, o que ela anda fazendo. Hoje em dia você consegue se reunir com amigos online e gratuitamente. Chega um final de semana e você quer conversar com alguém? Ligue para um amigo. Tome um vinho ou alguma coisa para relaxar e conversem ali como se vocês estivessem num bar. Imagine ali um cenário como se vocês estivessem na rua. No fundo, é igual. As conversas poderiam ser as mesmas. O que muda é o cenário. Você pode continuar praticando a sua sociabilidade normalmente e isso vai te ajudar muito”.

O excesso de informações também pode nos afetar?

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“Sim, o excesso de informações pode afetar, com certeza, principalmente visto que hoje em dia existem o que chamamos de fake news. São notícias falsas que vem de meios muitas vezes não confiáveis. Se a gente não buscar a fonte, ou seja, de onde aquela notícia veio, muitas vezes mandadas em grupos de Whatsapp, a gente acredita naquilo. Muitas vezes são notícias que são apavorantes. A famosa mídia sensacionalista, como nós chamamos. Então temos que tomar muito cuidado com isso. E precisamos controlar também o tempo em que passamos expostos a isso. Se passamos o dia inteiro só ouvindo aquele assunto, é lógico que isso vai tomar uma dimensão na sua vida muito maior do que talvez devesse tomar e você não vai ter o que chamamos de ‘reforçamento positivo’, você não vai ter pensamentos e atividades que te dão prazer, pensamentos que te fazem se sentir mais relaxado, mais feliz. Se passamos o dia inteiro rodeados dessas informações, nossas vidas podem se resumir a isso”.

E os psicólogos? Podem fazer um atendimento online nesse momento?

“Sim, hoje em dia os psicólogos conseguem fazer um trabalho praticamente com o mesmo nível de qualidade do presencial no que a gente chama de atendimento online. O atendimento online pode ser feito, por exemplo, com psicólogos que já têm uma carteira de pacientes. Eles podem manter aquele mesmo horário, ou atendendo outras pessoas que estejam sofrendo agora em virtudes dessas mudanças na rotina. Essas pessoas podem sim a vir precisar de alguma ajuda psicológica. E esses psicólogos estão disponíveis, mas precisamos procurar. Busque na internet psicólogos da sua região que podem estar atendendo online. Você facilmente vai encontrar isso. Os atendimentos são feitos através de canais como Skype, ou até mesmo através de chamadas de vídeo no Whatsapp. Assim como você faz com amigos, você poderia estar fazendo uma consulta psicológica online no conforto de sua casa e recebendo um atendimento que, com certeza, vai te fazer muito bem”.

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Marina Prado Franco

Psicóloga formada pela Universidade Federal de Sergipe; Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo; Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP; realiza atendimento presencial e online. Tem experiência no atendimento com adolescentes e adultos.