Os problemas de saúde mental estão aumentando, consideravelmente, durante a quarentena.
Um estudo da Universidade do Estado do Rio (Uerj) levantou que os casos de ansiedade e estresse mais do que dobraram e os de depressão tiveram um crescimento de 90%. Fora isso, também apontou que, neste momento, as mulheres estão mais vulneráveis aos transtornos mentais.
E o que, de fato, é o estresse agudo que tem tido aumento? Quais são os sintomas observados nos pacientes? Como amenizáa-los? Fizemos essas e mais perguntas à psicóloga Marina Prado Franco.
Confira o que a profissional disse:
O que é o estresse agudo?
“O estresse agudo ocorre quando há um conjunto de reações emocionais, fisiológicas e mudanças de pensamento em razão da vivência de um trauma. Que pode ser uma exposição a qualquer episódio completo ou ameaça de morte, lesão grave ou violência sexual, por exemplo. Esse trauma nós podemos viver diretamente, ou testemunhar de pessoas próximas e repercutir em nós”.
Quais os principais sintomas?
“Entre os principais sintomas que irão surgir, estão: as lembranças angustiantes e recorrentes do trauma (que podem aparecer, também, no formato de sonhos), muito sofrimento, evitação de qualquer situação que relembre o trauma (contato com pessoas que estiveram envolvidas, lugares, etc), crenças negativas sobre si e sobre o mundo, ausência da vontade de viver as tarefas do dia-a-dia, irritação constante, problemas com sono, sensação de culpa, incapacidade de lembrar muitos detalhes do que vivenciou, dificuldade de concentração, distanciamento social e sensação de estar vivendo um sonho — fora do momento presente.
Os sintomas tendem a durar, no estresse agudo, a partir de dois dias até um mês, por isso nós chamamos de estresse agudo. Após um mês, os sintomas tendem a desaparecer”.
Como amenizar os sintomas do estresse agudo?
“Para amenizar, algumas técnicas de redução de ansiedade podem ajudar, como a meditação, exercícios de respiração, exercícios físicos e o próprio contato social para expor os sentimentos e falar sobre isso.
Em casos mais graves, é necessário o atendimento e o acompanhamento psicológico para que essa pessoa consiga entender o que ela vivenciou, entender o trauma em si, e resignificá-lo, para que ela consiga seguir em frente e possa reavaliar os pensamentos que surgem em resposta ao trauma”.
Um estudo realizado pel Instituto de Psicologia da UERJ, mostra que aumentou a quantidade de pessoas com depressão, ansiedade e estresse agudo. O que é mais grave? Quem não tinha ou quem voltou a ter sintomas de doenças mentais?
“A pandemia, o isolamento social, o aumento das incertezas são alguns fatores que consideramos de ‘risco’ para o surgimento de alguns problemas mentais. Talvez, inclusive, pessoas que já possuiam algum transtorno de ansiedade ou depressão estejam mais vulneráveis em relação às pessoas que não tinham essas questões de ordem mental, anteriormente. Isso, porque para a pessoa que já tinha baixa autoestima, crença de incapacidade e que não via mais sentido na vida, além de tudo, ainda está sozinha, sem poder ver os amigos e sem saber o que, de fato, vai acontecer. Para essa pessoa, a quarentena tem um peso muito maior e as consequências podem ser mais complicadas”.
As mulheres são mais vulneráveis?
“Algumas pesquisas mostram que as mulheres podem ser mais vulneráveis aos transtornos ligados ao estresse, até por conta da questão hormonal, que influencia no humor. Mas também tem a questão da cobrança. Até hoje a sociedade cobra muito o ‘papel’ da mulher, a imagem dela. E hoje, ela sofreu um acúmulo de papeis. Anteriormente, a cobrança vinha da parte sexual. Hoje, ela é cobrada para ser a mãe perfeita, tem que dar conta do trabalho de maneira impecável, ser boa esposa e tudo faz com que, se ela não atingir as expectativas dela sobre alguns desses papeis, ela se sinta frustrada, ansiosa e culpada”.
E quem está com medo de procurar ajuda. Você acredita que após a pandemia a quantidade de pessoas com doenças mentais pode aumentar?
“Quando vivenciamos uma situação em que a nossa possibilidade de controle é inexistente, que tem até a morte como possibilidade real, que está na televisão a todo momento, isso, por si só, pode ser um evento traumático. E, por estarmos no meio de um evento traumático, a quantidade de pessoas com doenças mentais pode aumentar.
Essa pandemia, repleta de incertezas, pode, sim, ser um desencadeador de outros transtornos mentais. Por isso, é preciso procurar ajuda o quanto antes, para que o impacto não seja tão comprometedor”.
Marina Prado Franco
Psicóloga formada pela Universidade Federal de Sergipe; Especialista em Terapia Cognitivo Comportamental pelo CTC VEDA em São Paulo; Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-SP; realiza atendimento presencial e online. Tem experiência no atendimento com adolescentes e adultos.