Whindersson Nunes internado é uma quebra de tabu: o que isso significa para a saúde mental?

Hoje, eu gostaria de conversar com vocês sobre saúde mental, fama e internação psiquiátrica

Whindersson-Nunes
A internação psiquiátrica de Whindersson Nunes chocou parte do público, evidenciando um preconceito ainda latente na sociedade – Reprodução Instagram/@whinderssonnunes

Hoje, eu gostaria de conversar com vocês sobre saúde mental, fama e internação psiquiátrica. Recentemente, a notícia de que o Whindersson Nunes foi internado gerou uma grande repercussão, muitas críticas foram apontadas como: “Nossa, mas ele tem tudo!”. A verdade é que depressão e outros transtornos psiquiátricos nada tem a ver com dinheiro, fama, likes ou seguidores.

Publicidade

A depressão é traiçoeira

Mesmo com tanta tecnologia e informação, ainda vejo as pessoas falando que depressão é frescura, falta de fé e que buscar ajuda médica psiquiátrica é um sinal de fracasso, pois a pessoa não conseguiu se reerguer sozinha. Tudo isso me preocupa, porque é, cada vez mais frequente, a gente perceber consultórios médicos lotados com pessoas que buscam o psiquiatra ou o psicólogo como última opção.

Doença tem seus altos e baixos

Nesses casos, as pessoas já chegam com um grau alto de sintomas e severidade do quadro. A depressão é traiçoeira, ela não é estampada em nossas faces e também não aparece em exames de sangue. Isso faz com que a própria pessoa duvide do que está sentindo ou ache que é só uma fase e que vai passar. E sim, a doença tem seus altos e baixos. Uma pessoa com depressão pode, sim, sorrir ou fazer piada. Mas, muitas vezes, essa é uma ferramenta para lidar com as questões mais profundas da alma, como tristeza melancolia. E isso é muito comum entre comediantes, no entanto, atrás deste riso pode se esconder uma batalha silenciosa.

Profissionais do humor

Sabemos da história do ator Robbie Williams e também de Jim Carrey, que falaram sobre as questões pessoais com depressão. Estudos mostram que profissionais do humor têm até quatro vezes mais chances de desenvolver depressão e ansiedade em comparação a outras profissões (Fonte: British Journal of Psychiatry, 2022). Essa vulnerabilidade ocorre devido às intensas oscilações emocionais e à pressão constante de manter uma imagem feliz. É ainda  muito comum a reflexão sobre o que é ser feliz e ainda há a indagação sobre os reais sentimentos e a imagem a que se tenta passar.

Internação psiquiátrica é vilã ou salvação?

A internação psiquiátrica de Whindersson chocou parte do público, evidenciando um preconceito ainda latente na sociedade. Mas, você acha internação psiquiátrica é uma vilã ou uma salvação? A verdade é que esse preconceito acontece devido à história da psiquiatria, que nem sempre foi acolhedora. Excluíam quem era diferente da sociedade e colocavam essas pessoas em ambientes extremamente desumanos. Graças à ciência e evolução da psiquiatria e da medicina, esses ambientes evoluíram e podem ser, sim, uma salvação para muitas pessoas.

Critérios para internações

Agora, minha pergunta é: quais são os critérios para as internações? Um dos maiores critérios que a gente utiliza é o risco da pessoa para si mesmo ou para o outro. Ou seja, quando ela apresenta ideias de auto extermínio, já tentou se machucar ou machucar outra pessoa. Outro critério importante é quando não existe a capacidade de autocuidado, não consegue tomar as medicações ou se alimentar direito. Ademais, a higiene está prejudicada e não tem nenhuma rede de apoio que ajude nesse contexto. O terceiro é em relação a transtornos psiquiátricos graves. Elas estão descompensadas, com surtos psicóticos, depressão severa com risco à vida, e também a dependência química que não está tendo boa evolução na rede ambulatorial.

Ferramenta de superação para Whindersson Nunes

Whindersson Nunes foi extremamente corajoso e inspira muitas pessoas ao falar sobre suas questões como depressão, ansiedade e buscar ajuda. A internação psiquiátrica não deve ser vista como algo ruim e sim com uma ferramenta de superação cuidado e recuperação. Precisamos entender que a depressão é como uma doença como qualquer outra. Assim sendo, quando estamos doentes e tomamos uma medicação, mas o caso se agrava, ninguém questiona a necessidade de hospitalização, não é mesmo? Então por que com a depressão deve ser diferente?

Nós, médicos da psiquiatria, só agradecemos quando pessoas que exercem influência falam sobre o tema com naturalidade. Quando o Whindersson buscou ajuda, ele quebrou um grande tabu na sociedade e abriu o espaço para o debate sobre saúde mental e que a gente possa seguir esse exemplo para encorajar quem precisa de suporte. A maneira que temos de ajudar quem precisa é justamente incentivando a busca pelo cuidado médico, e, sempre, apenas apoiar e jamais julgar. Se você ou alguém próximo está demonstrando sinais de sofrimento emocional intenso, não hesite em buscar ajuda profissional. A saúde mental merece atenção, cuidado e respeito.

Publicidade

Sobre a autora

Jéssica Martani é médica psiquiatra, criadora do canal brilhantemente no you tube, especialista em TDAH e saúde mental, e coordenadora da pós-graduação reconhecida pelo MEC pelo Instituto TDAH e Universidade Anhanguera. Saiba mais em sua conta do Instagram (@dra.jessicamartani)