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O filme da sua mente: como os pensamentos negativos te aprisionam

Published 11/02/2025
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O nosso cérebro não sabe identificar o que é pensamento ou é real, portanto, esse excesso de pensamentos negativos podem gerar sentimentos - Canva Equipes/Rido

O que mais vejo no meu consultório são pessoas imersas em pensamentos destrutivos. Eles vão desde “eu não sou bom o bastante” até previsões catastróficas, como “vou ser mandado embora”, “estou com uma doença grave”, dentre outros. O grande problema é que o nosso cérebro não sabe identificar o que é pensamento e o que é real, portanto, esse excesso de pensamentos negativos podem gerar uma gama de sentimentos como angústia, medo ou tristeza, podendo inclusive indicar a presença de transtornos psiquiátricos.

Às vezes, a quantidade de pensamentos, ruminações e preocupações são tão excessivas que há um desgaste emocional intenso, ocasionando em cansaço, inclusive físico. Assim, a pessoa passa a sentir que tudo é difícil de fazer, até as atividades mais simples, pois o cérebro já está sobrecarregado em uma enxurrada de pensamentos. Já vi até pacientes descreverem essa sensação como se tivesse um liquidificador na mente ligado por 24 horas. Imagine então sentir-se dessa forma.

Sintomas

Claro que a pessoa começar a se sentir desgastada e sem forças para fazer as atividades simples de sua rotina, como responder uma mensagem de whatsapp, sair de casa, trabalhar ou assistir um programa na televisão. Muitas vezes as dificuldades se expandem a tarefas de autocuidado como higiene pessoal.

A mente se torna uma prisão e por mais que a pessoa queira “parar de pensar”, o cérebro repete os mesmos ciclos de pensamento. Na neurociência, o psicólogo americano, Daniel Wegner, descreveu o que denominou-se teoria do processamento irônico. Essa teoria demonstra porque as pessoas não conseguem dar uma “pausa na mente”.

Imagine a sua mente como uma tela de cinema onde o projetor está emperrado e a cena é aquela de terror que você não quer ver. Você tenta apertar o botão de “pause” ou apertar o para o botão que vai para a frente, mas essa cena se repete em um loop infinito. E a cena dos piores pensamentos ficam em replay na tela da nossa mente.

De acordo com a teoria, isso ocorre porque uma área do cérebro, o córtex pré-frontal, tenta inibir o pensamento, enquanto outra área, o córtex cingulado anterior, fica checando se realmente o pensamento foi suprimido. Essa checagem faz com que todo o trabalho do córtex pré-frontal seja em vão já que ao checar, os pensamentos são novamente lembrados e validados.

Frases como “minha vida é horrível”, “nada dá certo pra mim” dentre outros se repetem na mente deixando a pessoa cada vez mais triste. O grande problema é que nossos pensamentos são os atores e nós somos apenas o telespectador. Porém, nos confundimos com os atores e ficamos aprisionados nessas cenas do filme de nossa mente sem conseguir acessar a realidade. Segundo estudos da Universidade de Cambridge, a média do tempo que ficamos perdidos e desconectados em pensamento é aproximadamente 47% do nosso tempo. Isso nos coloca no mundo de preocupação constante e vivendo em um mundo paralelo e imaginário.

Você não é a história que a sua mente conta. Você não é o futuro e você já não é mais o passado. As coisas que passaram e seus pensamentos não são nada mais, nada menos do que ilusões criadas. Reconhecer isso é o primeiro passo para uma vida plena. Na ciência existem algumas práticas que podem ajudar a nos tornar o espectador e editor desses pensamentos sem mergulhar neles.

Técnicas de psicologia

Para melhorar tais pensamentos, existem algumas técnicas como o mindfullness que através da meditação e técnicas respiratórias nos ajudam a retornar ao presente. Também há técnicas da psicologia como o método verdadeiro, útil e gentil. Veja:

Esse método é muito utilizado para a reflexão e também uma técnica que gosto muito é a da escrita, escrever tais pensamentos faz com que a gente consiga retira-los da bagunça de nossa mente. Ao coloca-los em um meio físico, fica mais fácil o entendimento, assim como falar sobre eles em um ambiente seguro, como nas sessões de psicoterapias.

Outro método muito utilizado é a roda de A Roda de Emoções de Plutchik já que muitas vezes não entendemos a real origem de um pensamento e não conseguimos nomear as emoções, mas essa ferramenta muito utilizada em psicoterapia é muito útil e ajuda o paciente a conseguir correlacionar os pensamentos a emoções e ao nomeá-las gerar significados e com isso conseguir sedimentar e resolvê-los.

Saúde mental

O excesso de pensamentos pode indicar grandes problemas muitas vezes até mesmo transtornos psiquiátricos como depressão, ansiedade, TOC, Transtorno afetivo bipolar, dentre muitos outros. Por isso, muitas vezes apenas essas técnicas não são efetivas para melhorar completamente e o excesso de pensamentos pode indicar um desequilíbrio neuroquímico cerebral no qual neurotransmissores como serotonina, dopamina, glutamato, gaba, dentre outros, podem estar envolvidos na circuitaria cerebral e ainda ocasionar grandes problemas na edição do filme das nossas vidas.

Para ajudar a gente nessa, eu conversei com o especialista em saúde mental, o Dr. Brunno Siqueira, que me disse  o seguinte: “O que observamos é que os pacientes experimentam um ciclo sem fim de pensamentos negativos, e em alguns casos são tão intensos que geram uma desconexão com a realidade. Os pensamentos destrutivos não são ocasionados apenas por uma questão emocional, mas também envolvem uma série de fatores neuroquímicos, como o desbalanço dos neurotransmissores por exemplo. Dessa forma, além das técnicas de psicoterapia, é de fundamental importância que a pessoa busque acompanhamento médico especializado, para que consiga de fato retomar o controle de sua mente e de seus pensamentos”, afirmou.

Por isso que muitas vezes as técnicas da psicoterapia e de meditação podem não ser eficazes. Nestes casos, é importante ajuda médica e psicológica. Então fique atento e se indague cada vez que você tiver um pensamento. Reflita se ele realmente tem sentido, se é uma história real ou se são apenas os atores da sua mente criando uma nova peça pra você!

Sobre a autora:
Jéssica Martani é médica psiquiatra, especialista em TDAH e saúde mental, e coordenadora da pós-graduação reconhecida pelo MEC pelo Instituto TDAH e Universidade Anhanguera saiba mais @dra.jessicamartani.

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