Quantas vezes você já se pegou dizendo: “Depois do Carnaval, eu começo”? Seja para iniciar a dieta, retomar a atividade física, organizar as finanças ou até mesmo dar um passo importante na vida profissional, muitas pessoas sentem que precisam de uma data certa para começar. Mas essa lógica pode ser uma armadilha. E o pior, o ciclo da procrastinação se repete ano após ano.
Se identificou? A culpa não é só sua. O cérebro humano tem mecanismos naturais que favorecem o adiamento de tarefas desafiadoras. A boa notícia é que, quando entendemos como isso funciona, conseguimos mudar esse padrão e transformar metas em ações reais.
Como a procrastinação atua?
Primeiro, é bem importante compreender que a procrastinação não é preguiça. Pelo contrário, é uma estratégia que o cérebro usa para evitar desconforto. Isso acontece porque tarefas que exigem esforço – seja físico, mental ou emocional – ativam o sistema límbico, a parte responsável pelas emoções e busca de prazer imediato. Enquanto isso, o córtex pré-frontal, que comanda a lógica e o planejamento, tenta nos manter focados no longo prazo.
O problema disso é que o sistema límbico, geralmente, vence essa disputa. E quando colocamos uma data futura como ponto de partida, criamos a ilusão de que estaremos mais preparados e motivados depois. Mas o que acontece quando o Carnaval passa? Encontramos outra desculpa: “Depois do feriado”, “Depois do aniversário”, “Depois do mês que vem”. Assim, o ciclo se perpetua.
Esse adiamento contínuo é um fenômeno conhecido na psiquiatria como procrastinação estrutural, e ele nos leva a esperar momentos perfeitos para agir. Isso também explica porque muitas pessoas insistem em começar novos hábitos na segunda-feira – e desistem até quarta. A verdade é que não existe um momento ideal para iniciar algo novo. O cérebro resiste às mudanças, mas se adapta rapidamente quando as incorporamos ao dia a dia, de forma gradual e prática.
Estratégias para evitar
Se você sente que está sempre adiando algo importante, use algumas estratégias para enganar o cérebro e, finalmente, entrar em ação. A primeira delas é diminuir essa barreira, ou seja, em vez de se prometer “vou começar a academia”, experimente algo menor. Por exemplo, “vou caminhar por dez minutos hoje”. Pequenos passos ativam o sistema de recompensa do cérebro e reduzem a resistência ao novo. Essas metas reais e específicas costumam não funcionar porque o cérebro não consegue visualizar o que isso significa na prática. E, assim, fica mais fácil procrastinar.
Da próxima vez que decidir fazer algo diferente não espere o momento ideal, qualquer dia pode ser um recomeço – inclusive hoje. Se você passou janeiro e fevereiro esperando uma alternativa para mudar sua vida, saiba que esse momento não depende do calendário. Ele depende apenas da sua decisão de começar – agora, mesmo que de forma imperfeita. E então, qual é a primeira pequena ação que você pode fazer hoje para sair da armadilha da procrastinação?
Sobre a autora:
Jéssica Martani é médica psiquiatra, criadora do canal brilhantemente no you tube, especialista em TDAH e saúde mental, e coordenadora da pós-graduação reconhecida pelo MEC pelo Instituto TDAH e Universidade Anhanguera saiba mais @dra.jessicamartani.