Uma palavra que tem sido atualmente muito usada no meio da saúde é a palavra epigenética. Só ao ler já parece algo complicado, mas se você quer entender os mecanismos que mandam em sua saúde, não adianta, você tem que entender um pouquinho sobre genética e a epigenética.
Conhecendo a genética e a epigenética podemos desenvolver estratégias terapêuticas e preventivas, levando em conta tanto as predisposições genéticas quanto os fatores epigenéticos, que são aqueles que podemos controlar. A diferença entre genética e epigenética torna-se clara quando consideramos que, embora os genes (genética) influenciem nossa saúde, fatores externos podem ativá-los ou desativá-los. Resumindo a genética trata da herança dos genes, enquanto a epigenética é a resposta de como esses genes expressam a estímulos externos, como estresse, dieta e exposição a toxinas.
Vamos supor que você tenha herdado um gene que o predispõe a diabetes tipo II, a prática regular de exercícios e uma dieta balanceada podem “desligar” genes associados à resistência à insulina, prevenindo o surgimento dessas condições, a manifestação desse gene vai depender de como esse gene será ativado ao longo da vida. Então, a forma como levamos nossa vida pode impedir que essa predisposição genética seja desencadeada, ou seja, a genética estabelece o potencial, mas o ambiente e os hábitos estabelecem a ativação.
Mas, vamos ser mais específicos: A genética refere-se ao estudo dos genes e da hereditariedade, transmitido de pais para filhos. Os genes, compostos de DNA, são as unidades básicas que carregam as instruções para o desenvolvimento e funcionamento dos organismos e determinam uma ampla gama de características, desde a cor dos olhos até a predisposição a certas doenças como, por exemplo, a transmissão de doenças genéticas, como a fibrose cística ou a distrofia muscular ou mesmo diabetes e câncer que ocorrem devido a mutações específicas em genes. Mais uma prova de como a genética influencia nossa saúde de maneira direta.
Diferentemente da genética, a epigenética estuda as modificações que ocorrem na forma como os genes são ativados ou desativados, sem alterar a sequência do DNA. Essas modificações podem ser influenciadas por uma variedade de fatores, incluindo ambiente, estilo de vida, dieta e estresse.
As mudanças epigenéticas ocorrem por meio de processos como a metilação do DNA, que age como um “interruptor” que pode ligar ou desligar os genes. Se um gene está metilado, ele tende a ser silenciado e não será expresso, enquanto genes sem metilação podem ser ativados e funcionar normalmente e as modificações das histonas, que tornam os genes mais ou menos acessíveis. Terapias que visam restaurar a expressão gênica normal, como a desmetilação do DNA, já são utilizadas em alguns tipos de câncer e têm mostrado resultados promissores.
A metilação de genes pode, por exemplo, impedir ou favorecer o desenvolvimento de doenças crônicas, como câncer ou diabetes. Dietas ricas em antioxidantes, como frutas e vegetais, ajudam a regular esses processos de forma positiva, enquanto o consumo excessivo de alimentos processados e açúcares pode prejudicar a saúde epigenética, aumentando o risco de doenças.
Fatores que influenciam a epigenética
Diversos fatores influenciam a epigenética, então cabe a nós ajustarmos. Entre os principais fatores estão:
- Dieta: A alimentação desempenha um papel central na regulação epigenética. Alimentos ricos em antioxidantes e vitaminas promovem a metilação adequada do DNA, enquanto dietas ricas em gorduras trans e açúcares podem desregular a expressão gênica, aumentando o risco de doenças crônicas.
- Exercícios físicos: A prática regular de atividades físicas melhora a regulação dos genes envolvidos no metabolismo e na resposta inflamatória. Estudos mostram que o exercício não apenas previne doenças, mas também altera positivamente a expressão dos genes.
- Exposição à toxinas: A exposição a poluentes, fumaça de cigarro e outras toxinas ambientais pode desencadear mudanças epigenéticas prejudiciais, levando ao desenvolvimento de doenças crônicas. Evitar essas toxinas é essencial para preservar a saúde epigenética.
- Estresse: O estresse prolongado influencia negativamente a expressão gênica ao aumentar os níveis de cortisol, o hormônio do estresse. Técnicas de gerenciamento de estresse, como meditação e ioga, podem proteger a saúde epigenética.
Alguns impactos da epigenética na nossa saúde
Doenças crônicas e Câncer: A hipermetilação de genes supressores tumorais pode resultar em sua inativação, contribuindo para o desenvolvimento de câncer. Estudos mostram que fatores ambientais, como dieta rica em gordura e exposição a poluentes, podem induzir essas alterações epigenéticas.
Saúde Mental: A epigenética também foi relacionada a distúrbios psiquiátricos. Pesquisas indicam que experiências adversas na infância, como trauma ou abuso, podem provocar alterações epigenéticas que afetam a expressão gênica associada a doenças como depressão e ansiedade. Por exemplo, estudos com modelos animais mostraram que o estresse pode levar a modificações epigenéticas que alteram o comportamento social.
Doenças Metabólica: A epigenética influencia a predisposição a condições como diabetes tipo 2 e obesidade. A dieta e o exercício físico podem modificar o perfil epigenético de um indivíduo, afetando a forma como os genes relacionados ao metabolismo e à insulina são expressos. Um estudo demonstrou que uma dieta rica em frutas e vegetais pode impactar positivamente a metilação do DNA em genes associados ao controle do peso.
Desenvolvimento e Envelhecimento: A maneira como os genes são expressos durante o desenvolvimento fetal pode ser influenciada pela nutrição materna e por fatores ambientais. Além disso, o acúmulo de alterações epigenéticas ao longo do tempo pode contribuir para processos de envelhecimento e doenças associadas.
Epigenética e diagnóstico
Exames simples como o de bioimpedância que avaliam a composição corporal, monitorando fatores como a quantidade de gordura e massa muscular e o de mineralograma que identificam deficiências nutricionais que afetam a saúde epigenética, podem já dar um norte na tomada de decisões para tratamentos mais precisos pelo seu profissional de saúde.
Existem ainda exames específicos, daí a escolha vai de acordo com o profissional de saúde e com o seu bolso. Exames como a análise de metilação do DNA- o sequenciamento de exoma (método que permite a análise das regiões codificadoras de proteínas no DNA de uma pessoa), chip de metilação, análise de modificações de histonas, entre outros que podem ajudar a identificar biomarcadores para diagnóstico precoce ou mesmo a predisposição a certas condições de saúde.
Por fim, não podemos “ainda” alterar os genes que herdamos, mas podemos modificar como eles se expressam ao longo da vida. Prevenir doenças por meio de um controle adequado dos fatores epigenéticos é a com certeza a chave para uma vida longa e saudável. Mas, atenção: Não espere exames para iniciar essa mudança na sua vida, a transformação para uma vida melhor começa agora!