Cafezinho e medicamentos: uma perigosa interação

A cafeína pode alterar o resultado de remédios, suplementos e vitaminas e, nesta semana, este é o assunto abordado na coluna do farmacêutico Jamar Tejada

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A cafeína pode alterar o resultado de medicamentos, suplementos e vitaminas e, nesta semana, este é o assunto abordado – Canva Equipes/felipecaparros

Quem não ama um cafezinho? Essa é uma das bebidas mais consumidas do mundo, só perdendo para a água. E eu sou um dos que faz jus à fama, como quase todo brasileiro. Embora aumente a atenção, proteja de doenças neurodegenerativas, reduza o risco de diabetes tipo II e tenha tantos outros benefícios, os pontos negativos também não poucos, sendo a dependência, ansiedade, insônia e as interações com medicamentos os principais deles.

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Ninguém imagina – ou talvez não queira saber para evitar de ter que largar o vício – é que essas interações com medicamentos e suplementos é algo que você deve se importar sim. Por isso, eu dedico este tema à minha coluna de hoje. Vamos compreender como os compostos do café podem impactar a eficácia e a segurança dos seus medicamentos? Você faz uso de algum desses?

Interações do café com medicamentos

Antidepressivos

A cafeína pode influenciar a serotonina, um neurotransmissor crucial para o tratamento da depressão. Em alguns casos, a cafeína pode potencializar os efeitos dos antidepressivos, causando ansiedade e insônia, enquanto em outros, pode reduzir sua eficácia, dificultando o controle dos sintomas.

Antibióticos

O antibiótico ciprofloxacina, por exemplo, pode ter sua absorção alterada pela presença de cafeína, o que pode levar à uma diminuição na eficácia do tratamento. A cafeína compete por via de metabolização no fígado, comprometendo a eliminação dos dois compostos.

Antipsicóticos

A ingestão de café pode aumentar a absorção de alguns antipsicóticos, tais quais a clozapina, elevando seus níveis no organismo e aumentando o risco de efeitos colaterais. Essa interação é particularmente preocupante em pacientes em tratamento para transtornos psiquiátricos.

Anticoagulantes

O café pode afetar a coagulação sanguínea, interagindo com medicamentos, como a varfarina. A cafeína pode inibir a atividade da enzima que metaboliza a mesma, resultando em potenciais elevações nos níveis de anticoagulação e risco de hemorragias.

Medicamentos para hipertensão

A cafeína pode elevar a pressão arterial temporariamente, o que pode anular os efeitos de medicamentos antihipertensivos. Esta, por sua vez, pode ser particularmente preocupante para pacientes com hipertensão descontrolada.

Medicamentos para tireoide

A levotiroxina, um medicamento comum para o tratamento do hipotireoidismo, pode ter sua absorção reduzida pela cafeína. Estudos indicam que o café pode interferir na farmacocinética da levotiroxina, levando à necessidade de ajuste nas doses.

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Narcóticos e analgésicos

A cafeína pode potencializar os efeitos de analgésicos, tal qual o paracetamol, aumentando o efeito analgésico, mas também elevando o risco de efeitos colaterais. Isso se deve ao potencial de modulação da dor por parte da cafeína, que atua em vias neurais semelhantes.

E os suplementos?

Suplementos de ferro

O ácido clorogênico, presente no café, pode inibir a absorção de ferro. Consumir café próximo ao horário de ingestão de suplementos de ferro pode resultar em uma redução significativa na biodisponibilidade desse mineral essencial.

Cálcio e outros minerais

A cafeína pode aumentar a excreção urinária de cálcio, levando a um potencial risco de deficiência, especialmente em pessoas que consomem café em grandes quantidades e têm uma ingestão inadequada de cálcio.

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Vitaminas do Complexo B

A cafeína pode afetar o metabolismo de vitaminas do complexo B, especialmente a vitamina B6, potencialmente resultando em níveis sub-ótimos dessas vitaminas no organismo e, consequentemente, afetando a saúde metabólica e do sistema nervoso.

Erva de São João (Hypericum perfuratum)

A interação entre café e suplementos como a erva de São João pode ser complexa. O café pode aumentar a atividade de algumas enzimas hepáticas que metabolizam esses suplementos, resultando em uma redução de seus efeitos terapêuticos.

Quero lembrar que as interações podem variar de pessoa para pessoa, dependendo da metabolização individual e da quantidade de cafeína consumida. Para garantir a eficácia do tratamento e minimizar riscos, é sempre aconselhável consultar um profissional de saúde. Se você estiver tomando algum medicamento ou suplemento, converse com esse profissional sobre a melhor forma de integrar o café à sua rotina. A saúde é um delicado equilíbrio, e a informação é uma poderosa aliada. Bom café!

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