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Aconteceu comigo: um relato sobre os dias difíceis enfrentando a Covid-19

Na coluna desta semana, Jamar Tejada contou sua experiência pessoal e os sintomas que sentiu após testar positivo para o novo coronavírus

Jamar Tejada contou como seu corpo reagiu após testar positivo para a Covid-19 – Instagram/ Jamar Tejada/ Pexels

Um dos principais motivos pelos quais aceitei fazer parte dessa incrível revista foi o fato de que, além desta ter tudo a ver com o que acredito, tenho a liberdade de escrever o que quiser, assumindo compromisso com a minha verdade, com aquilo que busco, acredito e idealizo. Não há veículo mais apropriado para dividir com vocês o que passei do que a minha própria coluna. Aqui estão meus leitores, pessoas que comigo se identificam. A troca de experiências de vida com certeza é a maior forma de aprendizado!

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Desde que entrei nessa corrente naturopata, tento levar minha vida de forma mais equilibrada — parece piegas falar em equilíbrio morando em uma cidade tão maluca e sugadora de energias como São Paulo — mas não tive muita escolha. Ou eu trilhava um caminho em busca de uma vida mais equilibrada, ou então seria corrompido pela loucura da cidade. Nessa busca pela desintoxicação da cidade grande, chás, infusões, o famoso suco verde, alimentação integral e balanceada, mantendo-me o mais longe possível de farinha branca, açúcares, gorduras ruins e industrializados começaram a fazer parte da minha rotina e o fazem até hoje! Confesso que exercícios físicos nunca foram minha paixão, mas nos últimos anos começaram a fazer parte da lista prazerosa desse novo Tejard.

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Aí você deve pensar que com todos esses cuidados devo ter uma imunidade de ferro!

Também pensava, acreditava ser blindado contra qualquer vírus ou bactéria até que o Covid aconteceu comigo! Não me pergunte como isso aconteceu, acredito ter pego num vôo na ponte aérea Rio-São Paulo, onde uma senhora, sentada ao meu lado tossiu praticamente durante todo o percurso, quase debruçada sobre meu ombro. O fato é que raramente se tem certeza da procedência desse maldito vírus. Alguns dias após minha chegada ao Rio fui dar uma volta no calçadão e estranhamente me senti zonzo.

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Essa tontura começou a se tornar cada vez mais estranha, o que para mim era sinal de estresse, afinal eu fui para o Rio justamente para descansar, mas que efeito rebote era aquele que nunca havia sentido? Eu só pensava no quanto realmente estava precisando de férias! No outro dia começaram terríveis crises de enxaqueca, logo eu que nunca sofri dor de cabeça em toda minha vida! E aqueles dias que eram para ser de descanso, se tornaram dias de constatação de que eu estava à beira de um colapso mental e férias eram mais que necessárias, eram uma exigência desesperadora e urgente do meu corpo! 

Retornei a São Paulo e a cada dia que passava me sentia mais atordoado; sofria vertigens que nunca havia sentido, ficava zonzo com o simples olhar para a tela do celular, passava mal a cada volta que o carro realizava. Internamente já buscava uma resposta para tudo que estava acontecendo e já tinha uma explicação: o estresse me levou a uma crise de labirintite, simples assim! Enquanto isso meus compromissos do dia a dia se acumulavam, mas tentava levar, a cada movimento que eu dava era como se um tsunami atravessasse por dentro da minha cabeça e a noite depois de um dia inteiro sentindo fincadas na minha cabeça, tive febre, aliás muita febre! Aí foi o alerta, algo está errado!

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Testei positivo para a Covid-19

O dia mal amanheceu e já estava na porta do hospital, não lembro muito bem como cheguei, minha cabeça dava tantas voltas que o trajeto mais parecia um looping de montanha russa! Lá fui encaminhado diretamente para o teste, quem me via caminhando devia pensar que eu estava alcoolizado, eu caminhava em ziguezague. No fundo eu não queria acreditar que fosse a Covid. Eu não tossia, não tinha dor de garganta, não sentia cansaço, sentia cheiros, sentia gosto… não podia ser! 

Sai do hospital ainda mais febril e fui para casa aguardar o resultado do bendito teste e não teve outra: positivei! Meu mundo caiu! Meu Deus! E meu trabalho? Naquela semana mesmo tinha entrevistas marcadas, reuniões, prazos para revistas, jornais, mil coisas para resolver, sem falar que o final de ano estava próximo. Enquanto todos vibram com as férias e festas que estão chegando, quem tem empresa, como eu, está no ápice do desespero; décimo terceiro, férias, aluguel, impostos, a Covid não entra nessa conta! Não tive escolha, tive que me afastar da minha equipe e segurar o workaholic aqui. Descanso era a medicação mais importante, até porque minha cabeça só girava, foi um break a força!

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Esses dez primeiros dias foram tensos. A cada tossida, batia o medo de pneumonia, mas felizmente ele só atingiu 5% do meu pulmão, pneumonia leve. Em uma das noites febris tive uma crise de enxaqueca violenta e acordei pela manhã assustadoramente sem sentir cheiro e sabor, de nada, quando falo nada é nada mesmo! Como eu percebi? Quando fui escovar os dentes e não senti o gosto da pasta de dente super mentolada que uso! Por certo lado essa experiência do cheiro e sabor foi interessante. Mastigar algo sem saber se é saboroso ou não, se está doce, salgado, azedo, amargo ou picante, sentir apenas a textura e nada mais, me deu outra percepção sobre os alimentos. Embora já tenham passado dois meses desde a confirmação da Covid, continuo sem paladar (disgeusia) e sem sentir cheiros (hiposmia), fui sorteado entre os 36% dos pacientes infectados pelo coronavírus que desenvolvem complicações neurológicas.

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A cada dia que passava percebia um sintoma diferente que se manifestava: náuseas, falta de apetite, tosse, coriza, dor de barriga… mas o pior do sintomas é o medo, essa sensação de fragilidade diante da vida! Poxa, logo eu que me cuido tanto! Por que? Desde o início da pandemia ouvia casos de pessoas que estavam bem e do nada a doença agravava com tal velocidade que saiam de casa direto pro entubamento! 
Minha maior preocupação com certeza era essa! Solteiro, morando sozinho, longe da família! E se me faltasse ar? Será que vou conseguir chamar um taxi? ele vai chegar a tempo? Será que serei atendido rápido? Não seria melhor eu comprar um cilindro ou alugar um concentrador de oxigênio? Fiz uma listinha dos meus amigos mais próximos, uns estavam fora de São Paulo, outros enlouquecidos com sua rotina de vida e outros morrendo de medo de ter qualquer contato comigo! Minha família mora no Sul, minha irmã estava prestes a dar à luz de gêmeos, meus pais já são pessoas de idade, de forma alguma poderia aceitar a presença de quaisquer um deles aqui ou mesmo ir para lá!

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Me senti sozinho, completamente! 

O mais triste de tudo era o papel que carregava comigo no bolso, até para orientação de quem o pegasse no hospital, já que minha voz havia sumido. Um papel com todas as informações que eu achava necessárias, desde o meu endereço, até o fone dos meus pais, amigos mais próximos, no verso estava escrito: “Caso o pior aconteça, diga aos meus pais que a senha do meu pc é X, lá estão todos os dados de minhas contas e orientações. Parto pra lá feliz! Desculpe não poder estar com vocês nesses últimos dias, quero vocês bem! Amo vocês!” Dramático? Acredite, quando se está sozinho lutando contra uma doença no qual não se sabe o que pode acontecer — febril, sem voz, zonzo, sentindo um cansaço extremo — o medo impera seus pensamentos.

Graças a Deus essa cartinha infeliz nunca precisou ser lida e espero que nunca seja, assim que negativei a rasguei com lágrimas nos olhos, mas coração leve.
Passando o ciclo dos 15 dias, já me sentia melhor, menos zonzo, pouca febre, menos enxaqueca, com voz voltando, mas continuava sem paladar e olfato, o que me faz pensar em como somos desapercebidos de tudo que recebemos de presente pelo Pai ou pela Energia Maior. Seja lá qual for a sua crença, nascemos perfeitos e só valorizamos essa máquina perfeita que é nosso corpo quando percebemos falhas nas engrenagens. Infelizmente precisamos brecar para valorizar a mecânica incrível da vida! 

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Achei que ficaria surdo

Testei mais uma vez e continuava positivado, o que me fez continuar afastado do trabalho. Foi quando no final do ciclo, acordei sem audição! A sensação era como se meu ouvido estivesse cheio de água; dormi muitas vezes dentro da minha banheira, os banhos ajudavam a amenizar a febre e me deixavam mais tranquilo, com certeza era água que havia fechado os tímpanos, pelo menos era o que eu queria acreditar! Pulava feito um saci dentro do quarto — uma técnica milenar realizada por quem encontra-se em desespero por estar surdo! Não adiantou em nada! — Surdez foi literalmente a gota d´água! Liguei para vários amigos médicos que me diziam: calma! Vai voltar! Mas sentia na voz de cada um a certeza de nada e a incerteza de tudo! Não foi um, nem dois, nem três, foram os dias mais desesperadores dessa doença, no quinto dia eu já estava me arriscando a aprender a linguagem dos sinais e ao mesmo tempo que chorava com medo da surdez, pensava: “será que essa doença quer que eu fique em silêncio comigo mesmo?” Passaram-se oito dias para que o primeiro som voltasse a surgir. Foi uma sensação indescritível, agradeci a Deus do fundo do meu coração a oportunidade de ouvir!

Seguimos nossa vida num ritmo constante de muito barulho, agitação, ansiedade e estresse. Tudo isso grita na nossa mente e acabamos por não perceber que a solução mais rápida é justamente a ação contrária: o parar. A Covid foi o freio que me fez repensar sobre os valores de toda minha vida, de tudo que fiz até hoje, o que valeu e o que está valendo a pena; o valor da minha saúde, da família, da amizade sincera, do trabalho, da supervalorização da vida! Tudo nessa vida são experiências, mas não se renda! Aceite o que te foi imposto e aproveite esse difícil momento para se conhecer, mergulhe em você mesmo e aprenda a viver, vivendo o hoje sem a certeza do amanhã! Que Deus nos proteja de todo mal e permita-nos entender seus planos.

Viva como quem sabe que vai morrer um dia e morra como quem soube viver direito. Chico Xavier.

 

JAMAR TEJADA


Todas as quartas-feiras temos conteúdos exclusivos sobre métodos naturais para cuidarmos da saúde e do corpo… Daquele jeito que nós amamos!

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