Maria Padilha: Mitos e Verdades da Rainha das Pombas Giras

Quando escrevi o primeiro livro sobre a Rainha das Pombas Giras, pude compreender uma gama de emoções. Eu tinha a missão de transcrever tudo que ela viveu verdadeiramente na Terra, entre 1334 e 1361, da forma mais precisa possível

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Eu tinha a missão de transcrever tudo que a Maria Padilha viveu verdadeiramente na Terra, entre 1334 e 1361, da forma mais precisa possível- Pexels/James Superschoolnews

Maria Padilha dizia: “É impossível reconstruir uma história sem conhecê-la verdadeiramente. Eu sou a única e a última, serei para sempre lembrada e, apesar de nunca ter recebido uma coroa em vida, hoje, sou a rainha mais venerada.” Trecho do livro Maria Padilha: A Rainha Coroada Depois de Morta, Editora Lunae 2023.

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Escrever sobre Maria Padilha é algo que compreendo muito bem. No entanto, também me gera muita responsabilidade. Quando escrevi o primeiro livro sobre a Rainha das Pombas Giras, pude compreender uma gama de emoções. Eu tinha a missão de transcrever tudo que ela viveu verdadeiramente na Terra, entre 1334 e 1361, da forma mais precisa possível. Afinal, ela me deu a missão de adentrar em sua casa, fazenda, convento, igreja e, em 2024, a honra de estar frente a frente com seus restos mortais em Sevilha. Então, não são apenas breves linhas, mas sim, uma vida e uma eternidade.

A primeira coisa que devemos desmistificar é: Maria Padilha nunca foi amante de Pedro de Castela; ela sempre foi e será sua esposa legítima. Isso porque, antes de se casar com Branca de Bourbon, princesa da França a quem era prometido, Pedro de Castela casou-se secretamente com Maria Padilha na Igreja de Santa Maria em Burgos, na Espanha. Após esse mito cair por terra, começa a extensa saga para averiguar a história real da rainha das rainhas, pois, se quem a trouxe à Terra ou quem a recebe na Terra não sabia o básico sobre ela, todo um trabalho poderia ser comprometido.

Logo em seguida, mais um mito foi descoberto e decodificado pela própria história espanhola. Ao me debruçar sobre livros nas bibliotecas de Castela e Leão, na Espanha, pude ler em diversos livros que Maria Padilha nunca matou Branca de Bourbon. Quem foi responsável pela morte da princesa foi Pedro de Castela. Diga-se de passagem que, quando Branca morreu, Maria Padilha estava acamada, extremamente doente. Primeiro, pela doença emocional que sofrera e, segundo, porque seus pulmões já estavam consumidos pela peste bubônica da época. Uma morreu com diferença de uma semana da outra, e Branca foi enclausurada em uma cela na montanha mais fria de Medina Sidonia e, logo em seguida, envenenada por Pedro de Castela. Branca foi apenas uma das milhares de mortes provocadas por Pedro.

Outro mito: Maria Padilha era feiticeira desde criança. Não, Maria Padilha tinha como religião o cristianismo e se interessou pela bruxaria e feitiçaria com suas acompanhantes mouras, que trabalhavam no palácio de Sevilha. Essas mesmas acompanhantes seguiram com Maria Padilha até seus últimos dias na Terra.

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Maria Padilha fundou um convento de clausura com autorização do Papa Inocêncio, após Pedro de Castela casar-se secretamente com Juana de Castro, e tinha planos de viver lá até os últimos dias de sua vida, o que de fato aconteceu.

Essas são apenas algumas correções que a história e seus adeptos devem a Maria Padilha, que cultuaram uma mulher e sua história equivocada até os dias atuais, e muitos ainda se negam a acreditar que a mulher extremamente cultuada como uma feiticeira era, na verdade, uma mulher de inteligência inigualável. Bruxa e feiticeira, sim, com suas práticas mouras, mas que, durante as batalhas mais sangrentas de Castela e Leão, corria para as encruzilhadas para estar junto com Pedro e também para levar magia e fé a todos os soldados.

Mãe de quatro crianças: Isabel, Beatriz, Constança e Afonso, ela passava os dias entre acordos comerciais, negociações, estratégias governamentais, e à noite manifestava sua fé através de seus catecismos e magias.

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Em todo o reino se sabia da história de amor e ódio entre Maria Padilha e Pedro de Castela, e que, após seu descanso eterno, seu corpo repousaria em seu convento de clausura, como era seu último desejo. Hoje, os restos mortais de Maria Padilha encontram-se em um cofre em Sevilha, onde tive a honra de estar frente a frente com ela. Seu corpo esteve por apenas cinco anos no caixão de ouro branco disposto na Igreja de los Reys, em Sevilha. Hoje, no cofre, encontra-se guardado dentro de uma vitrine com vidro blindado, à frente de Pedro de Castela, que prometeu em seu leito de morte que seu eterno e grande amor sempre ficaria à sua frente, onde ela estivesse.

E agora você me pergunta: como essa mulher se tornou a rainha mais venerada na Europa e na América do Sul?

Isso é tema para outra escrita.

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Paz e Luz,

Kelida

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