Os olhos são a janela da alma, já diz a célebre frase. Era essa alma que eu tentava decifrar quando vi a tão comentada nudez de Bianca Censori, esposa do rapper Kanye West, no Grammy. Contextualizando, para quem (por acaso) não viu, ela chegou com um casaco preto. No entanto, ao posar para os fotógrafos, tirou a peça e estava nua – com apenas um tule transparente.
Com o semblante fechado, fez diversas poses. Ao lado dela, um marido que posava como se fosse ‘dono’ dela ou algo assim. Ela, nua, em meio aos flashes, representava a objetificação do que poderia ser um troféu.
A nudez de Bianca Censori me incomodou. Por quê?
Eu acho o máximo quando a mulher usa o que quiser, do tamanho que quiser, rompe com padrões estéticos e se sente empoderada (palavra enfadonha, mas que define bem). Desde cedo, nós, meninas, somos ensinadas esconder as curvas, a nos proteger, fechar as pernas, não usar roupa curta. Ver uma mulher livre no vestir e ousar é lindo. Aplaudo sempre. No entanto, o que me pegou na nudez da Sra. West é que ela parecia desconfortável. Infeliz. Fazendo algo por obrigação. Isso está longe de ser a alma de uma mulher que é dona de suas decisões.
Um programa de TV norte-americano entrevistou uma especialista em leitura labial para tentar entender o que foi dito no red carpet. “Você está fazendo o seu show agora”, disse West, em determinado momento, para Bianca enquanto ela tirava o casaco. Depois, teria ordenado “faça o seu show. Estou dizendo que vai fazer pleno sentido. Deixe cair atrás de você e se vire, estou com você”. Ela obedece.
Um meme, que ilustra esta matéria, gerado por IA, repercutiu nas redes sociais mostrando os personagens em uma situação inversa. A conta Nancy Soulcycle postou a imagem de Kanye nu, com uma expressão meio sem graça, com um quadro preto censurando suas partes íntimas. Ao lado, está Bianca Censori, vestida como o marido no evento “real”. Ou seja, está realmente poderosa. Ali, está muito claro ‘quem manda’ e quem obedece, a contragosto.
Nudez feminina
Nesse sentido, fica a impressão de que mostrar um corpo nu no padrão midiático (mídia = feita por homens) em um evento mundialmente televisionado e não estar confortável na própria pele (literalmente) está longe de ser alguma forma de poder ou afirmação feminina.
Para finalizar, tomei a liberdade de usar as palavras da cantora brasileira Luiza Possi e seu posicionamento em relação ao tema: “É degradante para uma mulher ter que se vestir assim. Vocês não estão fazendo um favor de ajudar uma mulher a se desenvolver, vocês estão fazendo um desserviço, mostrando que infelizmente a mulher só tem isso e ela vai se mostrar desse jeito para mostra poder. Isso não é poder, é desespero”.
* Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do site Bons Fluidos