Código da mente, código da prosperidade e mindset da felicidade

A busca pela felicidade se tornou um produto, e isso é perigoso

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Costumo dizer que a felicidade é tentativa e erro ninguém sabe o que a gente gosta realmente, é preciso coragem, é preciso tentar, é preciso se frustrar até encontrar o seu caminho – Canva Equipes/Hemera Technologies de Photo Images

Hoje, é quase impossível não topar com coaches e gurus de desenvolvimento pessoal, tanto no Brasil quanto ao redor do mundo, pregando métodos para aumentar a produtividade, aliviar a ansiedade e atingir uma vida próspera e dar felicidade. E eu sou contra! Vou explicar por quê.

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Vivemos em uma época na qual todos parecem ser melhores, mais bem-sucedidos, e essa avalanche de discursos cai como uma isca perfeita para quem se sente inferior. A busca pela felicidade se tornou um produto, e isso é perigoso. Muito se fala, atualmente, sobre a “esteira hedônica” — um conceito que exemplifica como estamos, constantemente, correndo atrás de objetivos, mas nunca nos sentimos realmente realizados. É como estar em uma esteira que nunca para. Você avança, mas não chega a lugar nenhum.

Existe até um ‘Índice da Felicidade‘, que analisa a qualidade de vida dos países através de indicadores como expectativa de vida, suporte social, liberdade de escolha, e crescimento econômico. Porém, paradoxalmente, os países mais felizes são, muitas vezes, os que apresentam altas taxas de suicídio. Ou seja, medir o nível de uma nação nem sempre traduz a felicidade real das pessoas.

Um dos maiores motivos de infelicidade, hoje, é a comparação. Nas redes sociais, somos bombardeados com corpos perfeitos, vidas perfeitas e contas bancárias perfeitas. Essa exibição desenfreada cria um ciclo de insatisfação e um terreno fértil para vender cursos de como ser mais feliz e produtivo.

O mesmo ainda acontece com livros que prometem dez passos para a felicidade ou cinco dicas para alcançar o sucesso, e se tornam best-sellers. Mas, até que ponto esse consumo é saudável? A indústria do desenvolvimento pessoal e da alta performance fatura bilhões. Esse tipo de conteúdo nos coloca dentro de um molde, como se todos tivessem os mesmos sonhos e os mesmos problemas, ignorando a realidade da maioria das pessoas.

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Quem está vendendo esta fórmula de sucesso não considera quantas horas você trabalha, de quantos filhos cuida, ou quantos traumas carrega. Para eles, é fácil falar sobre acordar às seis da manhã e fazer uma rotina de treino, pois já conquistaram o conforto financeiro que lhes permite toda a infraestrutura. Eles têm tempo e recursos. Mas, para o brasileiro médio, que, muitas vezes, mal tem o que comer, a alta performance soa como uma piada cruel que nos deixa cada vez mais infelizes e com a sensação de culpa. Pois, se ser feliz é só se conectar com um código e seguir cinco passos, então a gente pensa: “qual é o meu problema?”

Esses discursos motivacionais podem até nos empolgar, mas a motivação é passageira. Quando o entusiasmo esfria, você volta para a realidade e percebe que nada mudou. O desânimo bate, o cansaço cresce, e você se vê preso, sem saber como aplicar, na prática, o que leu ou ouviu. Para piorar, há quem se vicie neste tipo de conteúdo, acreditando que consumir livros, cursos e vídeos é o suficiente para mudar. Ler os livros e fazer os cursos causam a falsa sensação de missão cumprida. “Agora que eu fiz o curso tudo vai mudar, afinal fiz minha parte”.

Atenção: consumir informação não é o mesmo que agir. Para um desenvolvimento pessoal real, precisamos de autoconhecimento profundo — entender nossas forças, nossas fraquezas e o que realmente nos limita. Muitas vezes, nossos bloqueios têm raízes profundas, inconscientes e vêm de traumas, negligências e dores do passado. Por isso, o caminho para o crescimento é árduo e não pode ser encontrado em um livro ou curso. Este processo não é nada fácil, inclusive, ele é, por vezes, até doloroso.

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Não é fácil entender onde está errando, não é fácil entender a raiz de tudo. Costumo dizer que a felicidade é tentativa e erro ninguém sabe o que a gente gosta realmente, é preciso coragem, é preciso tentar, é preciso se frustrar até encontrar o seu caminho.

E a alta performance não passa de uma ilusão, somos seres humanos que se cansam, que conseguem fazer a dieta, mas, em alguns momentos, acabam deixando tudo de lado. Isso é normal e é muito importante que aprendamos também a nos acolher. Também é essencial que saibamos que, muitas vezes, o que pregam o que você quer nem é mesmo a vontade. Eles dizem: “seja rico, seja sarado”, mas quem disse que esse é realmente o seu objetivo? Às vezes nos frustramos muito tentando realizar sonhos que nem são nossos. E é por isso precisamos nos autoconhecer. E, para isso, frequentemente, a psicoterapia é necessária.

Não sou contra tudo o que eles falam. É claro que exercício físico é imprescindível, e ter metas é importante. Mas, o mais importante é você seguir em frente e começar a agir e começar a refletir porque não está conseguindo fazer certas coisas. Não se iluda. O verdadeiro desenvolvimento pessoal é um caminho de autodescoberta e enfrentamento das próprias barreiras.

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O que mais me preocupa é que esse mundo da alta performance é que ele exclui a ciência e a medicina. Muitas vezes você não está conseguindo performar porque está doente e isso me preocupa muito, pessoas que estão, na verdade, com depressão, tentando encontrar soluções empacotadas numa embalagem bonita que não vão ajudá-la profundamente! Isso vai fazendo com que o transtorno piore e essa pessoa viva cada vez mais infeliz e se sentindo culpado ou culpada. Por isso, vá atrás da ciência. É ela que nos move e que é capaz de realmente mudar a nossa vida. Se você não está bem, busque um médico, faça exames e procure ajuda da psicoterapia.