Chimarrão tchê!

Se tem uma coisa que sinto falta aqui em São Paulo, é o chimarrão lá da minha terra. Mais do que uma bebida, para nós gaúchos, chimarrão é a essência de uma amizade compartilhada, onde, a cada “tragada”, uma amizade é brindada.

Mas, eu não estou aqui para devanear sobre essa bebida que me acompanha por toda a vida, e sim, para esclarecer sobre os mitos e verdades que acercam essa bebida típica do sul do Brasil, minha terrinha. Feita com a infusão da erva-mate (Ilex paraguariensis) na forma desidratada e moída, a bebida tem um sabor levemente amargo. Há várias propriedades medicinais, como diminuir o colesterol “ruim”, evitar a diabetes, favorecer o emagrecimento e até melhorar a disposição. Além disso, vários compostos bioativos – como polifenóis, cafeína, teobromina e flavonoides – são compostos com ação termogênica, antioxidante, anti-inflamatória, estimulante e ergogênica.

Entre os benefícios do chimarrão para nossa saúde, estão:

Diminuir o colesterol “ruim”

O chimarrão é rico em saponinas, xantinas e teobromina. Esses são compostos bioativos antioxidantes que impedem a oxidação das células de gordura, ajudando na diminuição dos níveis de colesterol “ruim” (LDL) e aumento do colesterol “bom” (HDL) no sangue.

De acordo com um estudo da Universidade Federal de Santa Catarina, o consumo diário de um litro de chimarrão pode reduzir o colesterol LDL em 10% a 12%. Já uma pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Rio Grande do Sul (SOCERGS) constatou que o consumo diário de um litro de mate por oito semanas reduziu o colesterol LDL em 4,2%. Logo, o chimarrão pode ajudar a prevenir doenças como infarto, aterosclerose, derrame e insuficiência cardíaca causadas pelo aumento do colesterol no sangue.

Emagrecimento

A erva-mate é rica em cafeína e substâncias conhecidas como ácidos clorogênicos. Além de ajudar na regulação do colesterol, elas estimulam o metabolismo. Ou seja, o chimarrão tem propriedades termogênicas.

Melhorar a disposição

A cafeína, um composto com ação ergogênica, está presente em boas quantidades no chimarrão. Ela aumenta a produção de energia, melhorando a disposição física e mental e diminuindo o cansaço. Além disso seus compostos antioxidantes atacam os radicais livres melhorando a disposição.

Diabetes

Por ter uma potente ação antioxidante e anti-inflamatória, o chimarrão mantém a saúde do pâncreas. Isso faz com que equilibre os níveis de glicose no sangue e ajude a evitar a resistência à insulina e a diabetes. Já em pessoas com diabetes, o uso da erva-mate pode reduzir o efeito negativo da doença na oxidação e captação de glicose no músculo.

Prevenir o envelhecimento precoce

Seus compostos bioativos – como polifenóis, teobromina, ácido clorogênico, quercetina e kaempferol – protegem as células saudáveis contra os danos causados pelos radicais livres, evitando as rugas e a flacidez da pele. Esses antioxidantes neutralizam os radicais livres, impedindo que eles ataquem as células e o DNA.

Humor

O chimarrão é rico em cafeína e teobromina, compostos que estimulam a liberação de serotonina – neurotransmissor que regula o humor e o bem-estar. Por isso, ele ajuda a melhorar o humor e combater os sintomas de depressão e ansiedade.

Prisão de ventre

Não sei se você sabe, mas a cafeína, presente na erva-mate também tem um efeito termogênico, ajuda a combater a constipação. Ademais, os compostos bioativos da erva-mate estimulam a produção de bile e enzimas digestivas, facilitando a digestão. Sua ação anti-inflamatória também pode aliviar os sintomas de doenças inflamatórias intestinais.

Como preparar o chimarrão

O chimarrão é feito usando as folhas da erva-mate desidratadas e moídas, água quente, uma cuia e uma bomba de chimarrão. Mas, por mais que eu ensine aqui, o seu preparo é uma arte. Eu mesmo, até hoje, sempre deixo a bomba entupir. O preparo tem um jeitinho e necessita sim uma “cuspida” depois da primeira tragada.

Ingredientes:

• ⅔ da cuia de chimarrão de erva-mate
• 1 litro de água.

Modo de preparo:

Aqueça a água até atingir entre 45ºC e 50ºC. Coloque a erva-mate até um pouco mais da metade da cuia. Com uma mão tampando parcialmente a boca da cuia, incline-a para que a erva se concentre em um dos lados. Alise a erva na superfície da cuia com as mãos.

Adicione, cuidadosamente, um pouco de água quente no espaço não ocupado pela erva-mate. Deixe a cuia inclinada por alguns minutos para firmar a erva na lateral da cuia. Volte a cuia para a posição de pé e complete o restante da cuia com a água quente. Tampe a extremidade superior da bomba de chimarrão com o dedo, encaixando-a no lado oposto ao da erva, dentro da cuia. Beba em seguida. (Aí que entra a cuspida! Rs)

Grávida pode tomar chimarrão?

Grávidas só devem tomar o chimarrão sob a orientação de um médico. Isso porque ainda não existem estudos suficientes que comprovem a segurança dessa bebida durante a gravidez. A cafeína é um estimulante que pode aumentar a frequência cardíaca, alterar o metabolismo, e diminuir o fluxo de sangue que chega à placenta, e ela pode passar facilmente pela placenta.

O consumo excessivo de cafeína durante a gravidez pode estar associado ao parto prematuro, baixo peso ao nascer e restrição de crescimento intrauterino. Além disso, o chimarrão também pode afetar o desenvolvimento da circulação do bebê a partir do terceiro trimestre de gravidez.

Possíveis efeitos colaterais

O chimarrão é seguro quando usado por até 12 semanas seguidas. No entanto, por conter cafeína, o consumo de mais de 10 xícaras (de chá) por dia de chimarrão pode causar efeitos colaterais como insônia, dor de cabeça, ansiedade, dor no estômago e diarreia em algumas pessoas. Beber grandes quantidades de chimarrão também pode aumentar o risco de efeitos colaterais graves relacionados à cafeína, como convulsões, desidratação, vômitos, aumento dos batimentos do coração e dificuldades para respirar.

Além disso, consumir o chimarrão a 60°C, ou mais, pode causar câncer de esôfago. Por isso, é recomendado desligar o fogo quando iniciar a formação de bolhas no fundo da panela e esperar cinco minutos antes de colocar a água na cuia e garrafa térmica.

Chimarrão é para todos?

A erva-mate pode conter cafeína, mas sua quantidade varia de acordo com fatores, como sua origem, o método de preparação e a quantidade consumida. Segundo estudos divulgados pelo Journal of Food Science, a erva-mate pode conter de 0,3% a 1,7% de cafeína por grama de folha seca. Se comparado com outras bebidas, como o café ou o chá verde, oferece uma quantidade moderada de cafeína. Enquanto uma xícara de café pode conter cerca de 95 mg de cafeína, e o chá verde cerca de 30 mg por xícara, uma porção de chimarrão pode variar significativamente, mas geralmente fica em torno de 30 a 50 mg de cafeína por xícara.

Apesar de não existir consenso ou recomendação mundial estabelecendo limites para o consumo de cafeína por crianças e adolescentes, minha obrigação como profissional de saúde é alertar pais e cuidadores que existem outras opções alimentares mais saudáveis para se oferecer às crianças. O chimarrão não é indicado para crianças, assim como é contraindicado para mulheres grávidas ou que estejam amamentando. Por conter cafeína, o chimarrão deve ser evitado por pessoas com insônia, ansiedade, labirintite, refluxo, úlceras e gastrite.

Pessoas que usam medicamentos para controle da diabetes e problemas cardiovasculares, devem consultar um médico antes de consumir o chimarrão, já que essa bebida pode aumentar ou diminuir o efeito de alguns remédios. Além disso, pessoas com síndrome do intestino irritável só devem consumir o chimarrão com a orientação de um médico, já que essa bebida pode piorar os sintomas.

Bibliografia

https://www.fitoterapia.net/archivos/201611/wc500101492.pdf?1

MEDLINE PLUS. Herbs and Supplements: Yerba Mate Yerba Mate. Disponível em: <https://medlineplus.gov/druginfo/natural/828.html#:~:text=Yerba%20mate%20also%20contains%20caffeine,by%20mouth%20while%20breast%2Dfeeding>.

GAWRON-GZELLA, Anaa et al. Yerba Mate—A Long but Current History. Nutrients. Vol.13. 11.ed; 2021

CARDOSO, L, G, Ângela et al. Erva-mate (Ilex paraguariensis A. St. –hil.): uma revisão abrangente sobre composição química, benefícios à saúde e recentes avanços. Research, Society and Development. Vol.10. 11.ed; 1-13, 2021