Chumbo é encontrado no leite materno e pode ser causa de atraso de fala; entenda

Um estudo realizado pela Universidade de São Paulo (USP) encontrou a substância neurotóxica no líquido e chegou à conclusão que isso está afetando o desenvolvimento das crianças

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Os estudiosos analisaram o leite materno e o desenvolvimento de 185 bebês da cidade de São Paulo – Canva Equipes/RyanKing999

Um estudo feito pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP mostrou que o leite materno está contaminado com chumbo e pode ser o causador do atraso no desenvolvimento da linguagem de bebês. Entenda:

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Pesquisa sobre o leite materno

Os estudiosos analisaram o leite materno e o desenvolvimento de 185 bebês da cidade de São Paulo. No caso da substância, descobriram que havia arsênio, mercúrio e chumbo, mas preferiram focar na presença e os impactos do último, já que está presente em fertilizantes e emitido por carros e queimadas. Vale lembrar que o elemento é neurotóxico para o organismo humano e a nutricionista e autora do artigo, Nathalia Ferrazzo Naspolini, explicou o motivo ao Jornal da USP.

“[A contaminação] pode comprometer principalmente os astrócitos, que são células de suporte aos neurônios que fornecem tanto estrutura quanto energia. Quando não estão funcionando bem – como no caso de mitocôndrias comprometidas e metabolismo de gorduras alterado pela substituição de cálcio por chumbo – o neurônio funciona de forma diferente. Ele também altera a liberação dos neurotransmissores na fenda sináptica, como acetilcolina, GABA [ácido gama-aminobutírico] e glutamato”, detalhou.

Teste de comportamento

Ademais, a fenda sináptica é o espaço entre o terminal de um neurônio pré-sináptico (terminação do axônio) e a membrana de outro neurônio pós-sináptico (dendritos) ou uma célula-alvo. Esse espaço contém fluído extracelular, moléculas e íons importantes para o processo de comunicação entre neurônios (processo conhecido como sinapse), como os citados por Nathália. “Essa alteração nos níveis desses neurotransmissores na fenda sináptica pode levar a um declínio na habilidade linguística e de leitura”, especificou.

Isso levou os psicólogos do Projeto Germina – uma iniciativa colaborativa sem fins lucrativos de pesquisa de diferentes áreas do conhecimento da USP que estuda o desenvolvimento e a primeira infância – a quererem analisar o comportamento dos bebês em três períodos diferentes através do teste Bayley-III. O primeiro quando eles tinham três meses, depois, entre cinco e nove meses, e, por último, dez e dezesseis meses.

Atraso na fala

Com isso, chegaram à conclusão que o leite contaminado estava causando atraso no desenvolvimento da linguagem dos bebês. “A criança com certo número de meses já deve sentar, já deve engatinhar. Existem esses marcos, e eles vão verificando isso a cada seis meses. O Bayley-III, então, avaliou domínios de cognição, linguagem, memória e capacidade motora. O único afetado foi o de linguagem. Por exemplo, em uma criança muito pequena, isso pode se manifestar como o início tardio do balbucio, que é um primeiro passo no processo de linguagem. Conforme a criança cresce, ela começa a fazer mais coisas, e isso vai mudando com o tempo”, exemplificou Naspolini.

Ela também chamou a atenção para o fato de que a maioria dos voluntários tinha de média para alta rendas e mencionou um estudo que foi feito com as que possuíam pouco dinheiro. “Aqui [no Hospital das Clínicas da USP] encontramos que 30% das amostras tinham níveis [de chumbo] detectados, enquanto em estudo da Maternidade Escola da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), realizado com amostras de pessoas de baixa renda, mais de 90% do material estava contaminado”, alertou.

Possíveis soluções

Apesar de o cenário não ser dos melhores, o leite materno continua sendo a melhor fonte de alimentação na primeira infância e há soluções de limpeza, segundo a orientadora da pesquisa, Carla Taddei de Castro Neves“Não podemos afirmar que o leite é ruim. E já sabemos, pela literatura, que existe um processo chamado biorremediação. Por exemplo, bactérias são usadas para recuperar um ambiente contaminado, como uma lagoa com problemas ambientais. O metabolismo bacteriano ajuda a limpar a lagoa, restaurando o ecossistema. Isso é algo muito conhecido na ciência, na pecuária e na agricultura”, citou ao veículo da universidade.

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Além disso, há outra a especialista indica que há outra alternativa para o tratamento das mães. Alguns estudos mostram que ao dar probióticos, como o lactobacilo, para o animal, é possível remover os metais pesados do organismo. Isso ainda é pouco discutido na prática humana e, para comprovar, mais pesquisas se fazem necessárias. “Embora encontremos leite humano contaminado, será que a microbiota não está agindo para oferecer uma proteção biológica, evitando níveis maiores de contaminação? Ainda precisamos de muitos estudos para responder a isso, mas também devemos explorar a possibilidade de distribuir probióticos para essas populações mais afetadas, se comprovado esse processo”, finalizou.