O poder terapêutico das infusões: como praticar Mindfulness com uma xícara de chá?
Na coluna dessa semana, Jamar Tejada fala sobre o poder terapêutico do chá, associando o ato de ingerir a bebida com um exercício de atenção plena
Na coluna dessa semana, Jamar Tejada fala sobre o poder terapêutico do chá, associando o ato de ingerir a bebida com um exercício de atenção plena
Mais que uma bebida com propriedades terapêuticas, a qual o associamos à paz e à harmonia, o chá é um elemento cultural. No Japão, por exemplo, acontece a tradicional Cerimônia do Chá, inspirada em conceitos budistas, como: a simplicidade, a harmonia e a impermanência de todas as coisas. A ideia é alcançar a paz numa xícara de chá, abandonando o mundo material e se conectando com o mundo sagrado e espiritual.
Só de escrever isso, já despertei aqui a vontade de preparar um chazinho. Aliás, chás e infusões fazem parte da minha rotina para colocar ponto e vírgula na correria diária. Sinto como um momento de reconexão com meu “eu”, principalmente naqueles momentos em que tenho vontade de largar tudo e sair correndo. Essa prática durante a busca por equilíbrio é o tão falada Mindfulness, que ganhou popularidade nos últimos anos e se caracteriza pelo conjunto de técnicas ou práticas que auxiliam no estado de atenção plena – que é a capacidade de estar atento ao momento presente sem distrações.
Fecho a porta da minha sala, coloco o chazinho quente a frente, respiro fundo e presto atenção unicamente naquele momento. Presto atenção no vapor que sai, aos detalhes da xícara, as minhas mãos que a envolvem, direciono minha atenção conscientemente para esse momento tão simples.
Atenção plena significa prestar atenção através dos sentidos do corpo, como tocar, ver, ouvir e saborear. Aliás, acabei de me lembrar de um dos livros que li há muitos anos, do escritor mago Paulo Coelho, onde ele ensinava que quando houvesse um problema a ser resolvido, no qual não se encontra a solução, ele sugeria a seguinte prática: Derrame um copo de água no chão e brinque com a poça formada, desconectando-se dos arredores, esvaziando a mente e voltando-se totalmente e exclusivamente a poça d´água e assim, a solução dos problemas surgirá.
Hoje entendo que não era bruxaria, era Mindfullness e esse estado meditativo pode ser feito de forma mais prática com uma simples xícara de chá!
Antes de tudo, eu gostaria de deixar claro que muito se fala em chá, mas na grande maioria das vezes não se está tomando um chá, e, sim, uma infusão.
Uma infusão é a bebida que resulta da imersão de alguns ingredientes em água quente, como frutas, flores e ervas. Já os chás são exclusivamente as bebidas que vêm da planta Camellia Sinensis, originando as seis famílias de chás: branco, amarelo, verde, vermelho (Pu Erh), oolong e preto.
Mas para que sua prática Mindfulness ou seu tratamento com o chá ou infusão seja positivo, é preciso prepará-lo com carinho e cuidado. Percebo muitos erros no preparo, consumo e armazenagem que descartar todos os benefícios da bebida. Abaixo seguem os mais importantes pontos a serem levados considerados:
A incidência de luz pode causar oxidação dos princípios ativos contidos no chá, alterando a qualidade, o sabor e as propriedades medicinais da bebida. Por isso, esqueça os sacos plásticos e outros tipos de embalagens transparentes na hora de armazenar as ervas para chá.
Se for guardar em latas, saiba que há o risco de oxidação. Em potes de madeira, pode haver interferência no sabor e retenção de umidade. Por isso, também não são indicados. O melhor a fazer é acondicionar em uma embalagem de vidro âmbar, bem tampada e não acondicionar diferentes tipos de chás na mesma embalagem para que os aromas não se misturem.
Quando for preparar o chá, aqueça a água para facilitar a liberação das substâncias ativas da planta – o que não acontece facilmente com a água fria.
Atenção: nenuma planta deve ser fervida na hora do preparo da infusão, pois isso pode acabar eliminando suas propriedades. Fervendo a água, além de não garantir os benefícios da erva, ainda acaba-se produzindo uma bebida oxidada com sabor muito amargo.
As folhinhas de chá, Camellia sinensis, possuem taninos (como no vinho), de sabor amargo. No preparo deste chá, a água é quem vai extrair os taninos. Quanto mais tempo a erva ficar na água, mais taninos a água vai extrair e mais amargo o chá vai ficar. O mesmo ocorre no caso de preparar seu chá com água muito quente. É amargor na certa.
Então, para preparar o chá perfeito – e estou falando de chá mesmo, aquele preparado com a Camelilia sinensis, aqui vão algumas dicas de tempo de infusão e temperatura:
Caso você não tenha um termômetro, fique de olho quando for aquecer a água. Ao subir as primeiras bolhas, saiba que a água está a aproximadamente 70 – 75°C. Quando o tamanho destas bolhas aumenta um pouco, assim como a velocidade em que elas sobem, a água está a aproximadamente 80°C – 90°C. E eu recomendo que você pare aí.
Se você esquecer a água no fogão e ela atingir a fervura, não tem problema. Basta esperar de 1 a 3 minutinhos (depende da temperatura ambiente) para colocar a erva na água e preparar seu chá. Mas, lembre-se: para o preparo de outras ervas que não sejam chá (Camellia sinensis), você pode usar água fervente. É só seguir a tabelinha acima.
A maior parte dos chás pode ser tomado diariamente em pequenas quantidades, sem prejudicar a saúde. No entanto, alguns não devem ser ingeridos por mais de três semanas consecutivas, já que podem elevar à pressão arterial.
A quantidade de chá que se devemos ingerir dependerá do benefício que a pessoa estiver buscando. Por exemplo, o chá de gengibre para emagrecer pode ser tomado até um litro por dia. Se for para tratar enjoo, só é indicado tomar duas xícaras por dia. É importante consultar um profissional da área da saúde para saber o que tomar, pois cada erva tem suas particularidades.
Muitas pessoas acreditam, principalmente quando se fala em emagrecedores, que quanto mais “chá” tomar, melhor. Se a prescrição indicada é três xícaras ao dia, acreditam que se tomarem seis obterão o resultado de forma muito mais rápida: isso é um erro, um grave erro que pode causar diarreia, vômitos, dor de cabeça, vertigem, pressão baixa ou alta e desidratação. Por isso, siga a orientação do profissional da saúde e evite exageros.
Podem ser mais práticos, mas os chás de saquinho não têm a mesma qualidade que o preparado com as ervas do seu jardim. O que acho positivo no saquinho é que, se ele estiver manchado ou mofado, você sabe que deve ser descartado, pois está contaminado. O que eu acho negativo? O saquinho não permite que você enxergue o que tem ali dentro. Já encontrei muitos insetos analisando em laboratório e nem precisei de um microscópio.
Por isso, dê preferência na compra a granel e dê uma boa peneirada para verificar se, no fundo, não há insetos. Acredite, isso é bem comum.
Essas bancas são estabelecimentos que não possuem licenciamento sanitário e pela lei, apenas farmácias, drogarias e ervanarias podem comercializar ervas, sempre sob a supervisão de um farmacêutico. A venda ambulante traz riscos à saúde, tanto pela higiene precária quanto pela possibilidade de falsificação.
Toda planta tem suas propriedades medicinais, graças à presença de fitoquímicos. Logo, prescrição incorreta acarreta sérios riscos à saúde. Os chás podem ser uma solução definitiva para alguns problemas de saúde quando prescritos e, acima de tudo, consumidos de forma correta. Também podem ser complementos de um tratamento.
Há uma infinidade de ervas com uma infinidade de ações terapêuticas. Tudo depende da finalidade e do grau de avanço que encontra sua enfermidade. Se você está tendo crises de vômito e diarreia, não deve buscar socorro em um chá de boldo ou camomila. Deve procurar um médico para verificar de onde provêm tais sintomas. Muitas vezes, ao tratá-los com ervas, você pode mascarar um problema de saúde muito mais sério.
E lembre-se, desconfie da orientação do amigo ou da amiga que tomou aquela erva para tal problema.
Procure sempre um profissional de saúde, mas não qualquer um. Farmacêuticos são os mais indicados para recomendar o consumo de ervas e chás, mas não são todos que conhecem essa especialidade. Busque quem se especializou na área. Não é por ser natural que toda planta faz bem. Chá e nfusão não deixa de ser medicamento!
Cada planta tem um tempo determinado para que suas propriedades permaneçam tendo efeito. Quanto mais tempo exposto ao ar, mais perda de substâncias ativas irão ocorrer. A validade varia em torno de 18 meses. Depois desse período, é comum que o sabor, o aroma e as propriedades se modifiquem.
Mas o fato de ter passado da validade não significa que não possa ser mais consumido. Para saber, o melhor é fazer um teste pegando a folha do chá e a quebrando-a ao meio. Se ela fizer aquele barulhinho de “crocância”, é porque ainda está fresca e boa para consumir. Se você guardou o chá desde o começo em um recipiente adequado, é bem provável que ainda possa ser ingerido. Preste atenção no cheiro e se há sinais de mofo. Verifique visualmente se contém insetos.
Não é um padrão, mas, geralmente, para cada 1 litro de água, são utilizados entre 10 e 13 gramas de chá. Essa proporção vale para o chá verde, o chá preto, o chá branco e o chá vermelho. No caso de infusões com frutas, para cada litro de água, utiliza-se entre 18 e 25 gramas. Para ervas e flores, como camomila e melissa, a proporção é de 6 a 10 gramas por litro de água.
Que tal um chazinho agora que você já sabe tudo sobre eles? Saúde!